[f i l m e s d o c h i c o]

29 de nov. de 2006

[link]

[spirits 2006]


Saíram as indicações para o Independent Spirit Awards. Concorrentes e comentários em oscarBUZZ.

28 de nov. de 2006

[eu, você e todos nós]

[atrás das grades]


Faz exatamente uma semana que eu vi o filme de estréia de Miranda July e eu ainda não sei vou ter argumentos corretos para o fato de não ter gostado dele. Eu, Você e Todos Nós guarda uma diferença do cinema das personagens à parte que infesta o cinema independente dos Estados Unidos há um bom tempo: ele se envolve numa aura de ternura e fragilidade diferente da desilusão dos filmes de um Todd Solondz, o coitado que virou sinônimo de indie ruim, da nostalgia oca de um Hora de Voltar (Zach Braff, 2004), ou da tentativa de comédia maluquinha.

Esta moldura garante ao filme um ar de exclusividade, de certa forma, raro neste universo de exploração ou exaltação de personagens marginais. July, que também tem um dos principais papéis, no entanto, não deixa o filme escapar de uma série de pecados, sobretudo na caracterização destas personagens. Quase todos podem ser encaixados em definições como "a maluquinha", "o psicótico", "o pedófilo", "a menina sexy", "a enrustida", embora sempre travestidos de uma fragilidade que os deixa talvez excessivamente simpáticos para um público muito específico, um público, exatamente isso, um público indie.

É aí que a aparente delicadeza do roteiro de July se aproxima perigosamente, e a meu ver não escapa, dos clichês de seus filmes-parentes. Mesmo se esforçando para não contaminar as cenas com gratuidade - não é bem esse o termo - a diretora-roteirista recorre muitas vezes a algumas táticas bastante desagradáveis, como tentativa de dar poesia a, olha só, a história de um peixinho dourado ou na célebre cena dos dois irmãos numa sala de perversões sexuais na internet. Neste momento, a fragilidade do filme se revela meio calculada e o que aparece verdadeiramente frágil é a intenção de Miranda July. Não seria essa uma cena Solondziana?

Pois então, por mais que tenham decretada rasa a compreensão de quem faz uma comparação entre os cinemas de Miranda e de Solondz, eu não consigo dissociá-los, mesmo que a oficina seja outra. Para os dois, interessa o cinema-celebração de personagens esquisitas aos olhos comuns, que são condenados por não entederem um outro conceito de puro e belo. Mas o elogio ao incomum não é o problema e, sim, a dicotomia de se louvar os marginais através de estereótipos que os enclausuram como animais selvagens numa jaula de zoológico.

[eu, você e todos nós ]
direção e roteiro: Miranda July.
elenco: John Hawkes, Miranda July, Miles Thompson, Brandon Ratcliff, Carlie Westerman, Hector Elias, Brad William Henke, Natasha Slayton, Najarra Townsend, Tracy Wright, JoNell Kennedy, Ellen Geer, Colette Kilroy, James Kayten.
fotografia: Chuy Chávez. montagem: Andrew Dickler e Charles Ireland. música: Michael Andrews. desenho de produção: Aran Mann. figurinos: Christie Wittenborn. produção: Gina Kwon. site oficial:
Eu, Você e Todos Nós. duração: 91 min. Meand You and Everyone We Know, Estados Unidos, 2005.

nas picapes: [this never happened before, paul mccartney]

26 de nov. de 2006

[o grande truque]

[ilusão de ótica]


É um destes filmes em que a idéia é muito melhor do que a execução. Talvez isso já venha do livro em que O Grande Truque se baseou, mas a promessa de um Os Duelistas mágico ficou em algum lugar do caminho. A história, mesmo tendo como cenário o mundo fascinante dos ilusionistas, é presa por uma série de armadilhas das quais parece ser feito o cinema de Christopher Nolan e talvez tenha sido este o motivo que o atraiu para este projeto. O questionamento "por que é que o rosto dele não fica na tela por um segundo inteiro?" me revelou rapidamente o grande truque do filme.

Na falta de um roteiro mais interessante, Nolan poderia nos compensar com deleite visual, afinal é uma história de mágicos onde o que salta aos olhos é o que encanta, mas apesar de uma direção de arte bem competente, o filme é apenas corretinho nas apresentações dos dois rivais. A reconstituição da Inglaterra vitoriana é o ponto alto do filme e é o que mais faz lamentar que as possibilidades dramáticas do cenário não tenham sido exploradas. Veja o que David Lynch fez com O Homem Elefante, por exemplo.

Além disso, há um incômodo completo na tentativa de dar consistência à dupla nas peles de atores tão limitados quanto Hugh Jackman e Christian Bale, ambos belas apostas (impossível pensar em outro Wolverine que não o primeiro; Bale estava adorável em Império do Sol, do Spielberg). Apostas que não deram certo. E há um desperdício dos coadjuvantes. Michael Caine num dos papéis mais sem graça dos últimos tempos, David Bowie completamente deslocado e Scarlett Johansson reprisando pela enésima vez sua nova faceta loira fatal, provando que ela anda topando qualquer papel.


[o grande truque ]
direção: Christopher Nolan.
roteiro: Jonathan Nolan e Christopher Nolan, baseado em livro de Christopher Priest.
elenco: Hugh Jackman, Christian Bale, Scarlett Johansson, Michael Caine, Piper Perabo, Rebecca Hall, Samantha Mahurin, David Bowie, Andy Serkis, Daniel Davis, Jim Piddock, Christopher Neame, Mark Ryan, Roger Rees, Jamie Harris.
fotografia: Wally Pfister. montagem: Lee Smith. música: David Julyan. desenho de produção: Nathan Crowley. figurinos: Joan Bergin. produção: Christopher Nolan, Aaron Ryder e Emma Thomas. site oficial:
O Grande Truque. duração: 128 min. The Prestige, Estados Unidos/Inglaterra, 2006.



Resultado do ranking dos festivais da Liga dos Blogues Cinematográficos.

nas picapes: [all alone, gorillaz]


24 de nov. de 2006

[fonte da vida]

[mau gosto existencialista]


Não importa se você é dos que amam ou dos que odeiam Darren Aronofsky. Não faz a menor importância o que você pensa sobre Pi (1998) ou Requiém para um Sonho (2000) ou se ficou feliz ou arrasado com os cancelamentos de seus contratos para fazer o filme dos Watchmen ou o projeto Batman: Ano Um. Tudo porque eu desejo o seu bem e você tem que me prometer que não vai se enganar pelo novo projeto do diretor. Fonte da Vida é uma catástrofe absoluta, um filme que me surpreendeu. Por não ter recebido todas as vaias que merece.

Eu, se fosse você, e tivesse aquele viés espírita escondido, tratava de assassiná-lo porque , das duas uma, ou você acha acertadamente que aquilo que se vê na tela é tudo uma grande patetada (ora ingênua e estúpida, ora gananciosa e perversa) ou, e acho que essa possbilidade tem mais chances de acontecer, suas crenças podem deixar com que você olhe com um certo carinho para um tema tão interessante quanto os planos de existência e a evolução do nosso espírito imortal.

Eu realmente concordo que o assunto guarde seu interesse, mas, você há de convir (ou não, mas aí é com você), que a metafísica barata e a filosofia de botequim - que, creia, é pior do que a das obras de Kim ki-duk - de que Aronofsky impregna o filme não é a maneira mais adequada para abordá-lo. E você gostava do Hugh Jackman como Wolverine, mas aqui ele tirou férias da arte de interpretar. De tão obcecado, o personagem dele parece ser uma metáfora do diretor, querendo fazer um filme destes. A Rachel Weisz, mais sabida, mal aparece.

Mas se fosse apenas um desperdício de texto e de tempo, Fonte da Vida seria apenas um filme ruim entre tantos outros. No entanto, esse cenário se agrava com o tom brega que domina cada frame do filme, seja no(s) romance(s) ou na execução dos efeitos visuais, os mais horrendos que eu tive a oportunidade de assistir. Um mau gosto megadimensionado, megalomaníaco que tenta vender um filme assustador de tão ruim - e, o pior, um filme pérfido por tentar cooptar o espectador para seu embuste.

[fonte da vida ]
direção e roteiro: Darren Aronofsky, baseado em estória de Darren Aronofsky e Ari Handel.
elenco: Hugh Jackman, Rachel Weisz, Marcello Bezina, Alexander Bisping, Ellen Burstyn, Mark Margolis, Cliff Curtis, Sean Gullette, Donna Murphy, Ethan Suplee, Sean Patrick Thomas.
fotografia: Matthew Libatique. montagem: Jay Rabinowitz. música: Clint Mansell. desenho de produção: James Chinlund. figurinos: Renée April. produção: Arnon Milchan, Iain Smith e Eric Watson. site oficial:
Fonte da Vida. duração: 96 min. The Fountain, Estados Unidos, 2006.

nas picapes: [superstar, sonic youth]


[estréias 24/11]

[estréias nos cinemas brasileiros nesta sexta]

O Crocodilo , Nanni Moretti
Fonte da Vida , Darren Aronofsky
Happy Feet, o Pingüim, de George Miller
1972, de José Emílio Rondeau
Nzinga, de Octávio Bezerra
O Pacto, de Renny Harlin

[estréias em Salvador]

O Arco, de Kim ki-duk
100 Escovadas Antes de Dormir, de Luca Guadagnino
Fonte da Vida , Darren Aronofsky
Happy Feet, o Pingüim, de George Miller

E eu finalmente terminei minha rodada de novembro de apostas para o Oscar. No dia 6, começa a temporada de prêmios com o National Board of Review.

22 de nov. de 2006

[robert altman]

[robert altman]




Robert Altman atravessou seis décadas de cinema. Durante a maior parte delas foi um dos maiores autores do filme nos Estados Unidos. Seu cinema era generoso em número de personagens e de histórias, que geralmente se entrelaçavam. Um tipo de filme sem grandes artifícios visuais que se sustentava basicamente na qualidade de seu texto e na direção de seus atores. E dirigir atores era com ele mesmo. Foi Altman quem criou Lily Tomlin, Sally Kellerman e Julianne Moore, quem deu o melhor papel da vida de Tim Robbins, quem fez Meryl Streep soltar a voz. A Última Noite, comentado logo abaixo, não poderia ser um réquiem mais apropriado.

M*A*S*H* (1970)
Quando os Homens São Homens (1971)
Imagens (1972)
Renegados até a Última Rajada (1974)
Nashville (1975)
Três Mulheres (1977)
Cerimônia de Casamento (1978)
Popeye (1980)
O Exército Inútil (1983)
Louco de Amor (1985)
O Jogador (1992)
Short Cuts (1993)
Prêt-à-Porter (1994)
A Fortuna de Cookie (1999)
Dr. T e as Mulheres (2000)
Assassinato em Gosford Park (2001)
De Corpo e Alma (2003)
A Última Noite (2006)


 
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