[f i l m e s d o c h i c o]

28 de fev. de 2005

O PENETRA QUE DEU CERTO

Uruguaio que não pôde cantar sua música foi o dono da noite do Oscar



Numa festa onde o que se achava que seria, foi, o uruguaio Jorge Drexler apareceu como maestro. Impedido de cantar a canção que ele mesmo compôs para Diários de Motocicleta, Drexler, quando teve o nome surpreendentemente anunciado na condição de vencedor, foi ao palco, cantou um trecho de sua bela música e se retirou com um educado tchau de protesto. Antes disso, o compositor teve o infortúnio de assistir Antonio Banderas e Carlos Santana deturpando e distorcendo "Al Outro Lado del Rio", numa escolha lamentável feita pela Academia de Artes de Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos.

Martin Scorsese, meu favorito da noite, voltou mais uma vez para a casa sem seu prêmio. O Oscar que foi para Roman Polanski (numa eleição de reparação política), Robert Redford (numa injustiça monumental) e para John G. Avildsen (num ano em que o mestre nem conseguiu ser indicado), desta vez foi parar nas mãos de Clint Eastwood. Menos mal. Clint merece louros por ter transformado um dramalhão num filme bem dirigido. Muito bem dirigido. No entanto, O Aviador, visto com olhos preconceituosos por muita e muita gente, tinha um trabalho talvez mais excepcional. Trabalho que merecia todos os créditos.

Menina de Ouro não apenas ganhou os prêmios de filme e direção, como fez com que Hillary Swank, realmente num momento luminoso, conseguisse o êxito de um segundo Oscar em seis anos. Bateu Annette Bening outra vez. Uma categoria em que a lei da compensação não valeu. Lei que elegeu Morgan Freeman, correto e igual a tudo o que faz no mesmo filme de Swank. Numa categoria com interpretações corretas, a idade e o carisma de Freeman fizeram peso na balança.

Cate Blanchett, vejam só, foi o prêmio mais importante de O Aviador. Seu desempenho, realmente afetado nas primeiras cenas cresce ao longo do filme e nos devolve à grande atriz que ela é. Venceu Virginia Madsen, que está linda em Sideways, que ficou com um prêmio bastante esperado de roteiro adaptado. Entre os originais, um ufa com o anúncio da vitória de Charlie Kaufman pelo belo Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, um filme que poderia sofrer com sua juventude. Como na Academia, quem manda é a idade, foi uma decisão muito bem vinda.

A premiação de Jamie Foxx, discurso da vovó do ano, por Ray foi, além de esperada, de certa forma, feliz. Bom ator, Foxx, apesar da caricatura, foi bem honesto ao viver Ray Charles, embora o ator do ano tenha sido Leonardo Di Caprio (que foi com a Giselle, o contrato deixou...). O que o filme de Foxx não merecia foi ganhar na sonoplastia. Pareceu homenagem póstuma ao compositor retratado no longa. Todos os demais candidatos eram melhores.

Mar Adentro ganhou como filme estrangeiro, categoria que precisa ter as regras mudadas para ser justa de verdade. Sorte que o filme era realmente muito bom, apesar de terem ignorado a excelência da interpretação de Javier Bardem. E Os Incríveis, que não tinha concorrente à altura como filme de animação, ainda somou uma estatueta pela edição de som, roubando - um roubo delicioso, por sinal - um segundo prêmio para Homem-Aranha 2, Oscar de efeitos visuais e, que se o mundo fosse justo, estaria entre os melhores filmes do ano.

Sem os Oscars principais, O Aviador levou merecidamente quase todos os prêmios técnicos: fotografia (único questionável pelo excesso de filtros), montagem, direção de arte e figurinos. Nos dois últimos, vencendo sem dó a fantasia de Desventuras em Série, que arrancou a vitória em maquiagem das mãos de Jesus (ainda bem...). Em Busca da Terra do Nunca ficou com o único que merecia, melhor trilha sonora. Se alguém acha que existe a categoria "filme feito para o Oscar", alcunha atribuída para o filme errado neste ano, deveria assistir esse aqui.

As categorias secretas, aquelas em que a gente quase nunca sabe quem são os indicados (curtas de ação e de animação; documentários longa e curta), eu não vou comentar porque não tenho muito o que falar. As inovações na entrega dos prêmios foram bem vindas. A festa ficou mais animada. O Oscar honorário para Sidney Lumet foi uma bela lembrança para um diretor que fez muita coisa boa (apesar de ter nos dado muita coisa ruim também). Para a Academia, há saldo no fim das contas de 2004, apesar da vergonha que Jorge Drexler, o vingador, deliciosamente fez muita gente passar. Vergonha maior somente a da Rede Globo. Não tanto pelos comentários que, às vezes, resvalavam no mau humor, nem nos tropeços da tradução das vozes masculinas (como de praxe, o lado feminino teve a ótima Elisabete Hart), mas pela decisão feia, infeliz e especialmente injusta com o telespectador, que teve que ver a festa pela metade.

rodapé: Halle Berry ganhou pontos ao ir receber o Framboesa de Ouro de pior atriz. Mulher-Gato não ganhou mais coisa (filme, direção, roteiro) porque os votantes tiveram a esperteza de dar os prêmios de piores ator (George Bush), ator coadjuvante (Donald Rumsfeld), atriz coadjuvante (Britney Spears) e dupla (Bush e Condoleeza Rice) para a tragédia Fahrenheit 11 de Setembro.

27 de fev. de 2005

UMA LISTA IDEAL PARA O OSCAR?

filme

Antes do Pôr-do-Sol, de Richard Linklater
O Aviador, de Martin Scorsese
Homem-Aranha 2, de Sam Raimi
Os Incríveis, de Brad Bird
Mar Adentro, de Alejandro Amenábar

direção

Alejandro Amenábar, por Mar Adentro
Clint Eastwood, por Menina de Ouro
Martin Scorsese, por O Aviador
Richard Linklater, por Antes do Pôr-do-Sol
Sam Raimi, por Homem-Aranha 2

ator

Jamie Foxx, por Colateral
Jamie Foxx, por Ray
Javier Bardem, por Mar Adentro
Leonardo Di Caprio, por O Aviador
Paul Giamatti, por Sideways

atriz

Catalina Sandino Moreno, por Maria Cheia de Graça
Hillary Swank, por Menina de Ouro
Julie Delpy, por Antes do Pôr-do-Sol
Kate Winslet, por Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Nicole Kidman, por Dogville

ator coadjuvante

Brad Bird, por Os Incríveis
Javier Bardem, por Colateral
Paul Bettany, por Dogville
Rodrigo de La Serna, por Diários de Motocicleta
Thomas Haden Church, por Sideways

atriz coadjuvante

Cate Blanchett, por O Aviador
Kirsten Dunst, por Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Mabel Rivera, por Mar Adentro
Rosemary Harris, por Homem-Aranha 2
Virginia Madsen, por Sideways

25 de fev. de 2005

OSCAR 2004: PREVISÕES E APOSTAS



Nos últimos dias, virou mania defender a idéia da vitória de Menina de Ouro nas duas principais categorias do Oscar deste ano. A escalada do filme nas bolsas de apostas se deve a três fatores: 1) a crença cega e surpreendentemente enorme de que o carisma de Clint Eastwood manda em Hollywood; 2) o fato de ele ter feito um filme pequeno, carinhoso, pessoal e seu principal rival ser uma superprodução; e 3) a aposta na história azarada de Martin Scorsese em relação ao prêmio. Eastwood passou a ser favorito como diretor e seu filme seguiu o mesmo caminho.

Eu, no entanto, ainda acho que o Oscar, no domingo, será o da compensação. E que Martin Scorsese e seu O Aviador vaõ ganhar muitos prêmios. Se a lei da compensação premiar Scorsese, a justiça terá vindo, ainda que por linhas tortuosas. Seu filme é mesmo o melhor entre os candidatos e merece ganhar o prêmio. Eis as minhas apostas (arriscadas). As listas estão ordem de chances que eu acredito que cada indicado tem:

filme

1 O Aviador, de Martin Scorsese
2 Menina de Ouro, de Clint Eastwood
3 Sideways, de Alexander Payne
4 Ray, de Taylor Hackford
5 Em Busca da Terra do Nunca, de Marc Forster

Todas as minhas fichas para Martin Scorsese e seu O Aviador, premiação embasada pelo guild dos produtores e pelo Globo de Ouro de melhor filme dramático. Acho que vai vencer o filme que é ao mesmo tempo o melhor dos candidatos e o filme que tem mais o perfil do Oscar. Menina de Ouro é um azarão forte, mas eu não acho que mr. Eastwood consiga virar o jogo, apesar de muita gente apostar no filme pequeno. Embora Sideways tenha ganho milhares de prêmios de críticos, suas chances aqui são nulas. As indicações dos dois demais somente se justifica por falta de opção.

num mundo provável: O Aviador, de Martin Scorsese
num mundo possível: Menina de Ouro, de Clint Eastwood
num mundo perfeito: O Aviador, de Martin Scorsese
num mundo perdido: Em Busca da Terra do Nunca, de Marc Forster

diretor

1 Martin Scorsese, por O Aviador
2 Clint Eastwood, por Menina de Ouro
3 Alexander Payne, por Sideways
4 Mike Leigh, por Vera Drake
5 Taylor Hackford, por Ray

Vale a mesma lógica do quesito anterior: acho que ganha Martin Scorsese. Muito difícil a Academia deixar que uma nova derrota faça parte do currículo do diretor. Aqui, acho que as premiações do Globo de Ouro e do guild dos diretores não contarão muito já que Scorsese foi premiado por Gangues de Nova York tanto em um quanto em outro, ao contrário do Oscar. Aqui, o sentimento é de dívida. Clint, Oscar por Os Imperdoáveis, deverá ceder a vez. Os outros não têm chance alguma.

num mundo provável: Martin Scorsese, por O Aviador
num mundo possível: Clint Eastwood, por Menina de Ouro
num mundo perfeito: Martin Scorsese, por O Aviador
num mundo perdido: Taylor Hackford, por Ray

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



atriz

1 Annette Bening, Being Julia
2 Hillary Swank, Menina de Ouro
3 Imelda Staunton, Vera Drake
4 Kate Winslet, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
5 Catalina Sandino Moreno, Maria Cheia de Graça

A mais difícil categoria: o mundo inteiro aposta em Hillary Swank, mas eu vou me arriscar com Annette Bening. A lógica (se é que há): Swank ganhou o prêmio do guild e o Globo de Ouro de atriz dramática, que vale mais do que o de melhor atriz em comédias e musicais, prêmio que foi para Bening. No entanto, o Oscar pode se sentir em débito com a senhora Warren Beatty, que perdeu justamente para Swank (Meninos não Choram) há cinco anos, quando foi indicada por Beleza Americana. Esse débito não existe no guild porque foi Bening quem ganhou essa disputa à época. E no Globo de Ouro, as categorias eram diferentes. Contra Swank, há a idade e o fato de que ganharia um segundo Oscar em pouco tempo. Contra Bening, concorrer por um filme menor, onde somente ela está indicada, e disputar contra um dos filmes favoritos. Nessa briga, Imelda Staunton, em filme de atriz de diretor respeitado, pode ser um azarão de luxo.

num mundo provável: Annette Bening, Being Julia
num mundo possível: Hillary Swank, Menina de Ouro
num mundo perfeito: Kate Winslet, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
num mundo perdido: ninguém

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



ator

1 Jamie Foxx, Ray
2 Clint Eastwood, Menina de Ouro
3 Leonardo Di Caprio, O Aviador
4 Don Cheadle, Hotel Rwanda
5 Johnny Depp, Em Busca da Terra do Nunca

A mais fácil categoria: Jamie Foxx ganha com um pé nas costas. Além de estar ótimo no papel, faz um mito (Ray Charles), ganhou (quase) todos os prêmios do ano, é negro (e nós ainda estamos na época do politicamente correto) e seus principais adversários são um mega-astro que a Academia pode não querer reconhecer como bom ator e um setentão que se sai imensamente melhor como diretor. Clint Eastwood pode ser favorecido caso os acadêmicos queiram preteri-lo em lugar de Martin Scorsese na categoria de direção. Carisma não falta e existe um certo consenso em querer premiá-lo. Di Caprio, excelente, ainda sofre da (má) fama de Titanic

num mundo provável: Jamie Foxx, Ray
num mundo possível: Clint Eastwood, Menina de Ouro
num mundo perfeito: Leonardo Di Caprio, O Aviador
num mundo perdido: Johnny Depp, Em Busca da Terra do Nunca

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



atriz coadjuvante

1 Cate Blanchett, O Aviador
2 Virgina Madsen, Sideways
3 Natalie Portman, Closer
4 Laura Linney, Kinsey
5 Sophie Okonedo, Hotel Rwanda

Uma categoria sempre difícil, onde as vitórias muitas vezes surpreendem. Cate Blanchett sai na frente por ser a única que está na condição de grande atriz, já foi indicada, interpreta um mito (que também era atriz e ganhou quatro Oscars), ganhou o prêmio do guild e tem o filme com mais indicações por trás. Virginia Madsen, maravilhosa, seria uma maneira de dar outro prêmio ao filme alternativo do ano. Ganhou meio mundo de coisas. Pode surpreender. Natalie Portman pode ser considerada jovem demais, apesar do Globo de Ouro. Laura Linney, apesar do fracasso de Kinsey nas indicações, não está fora da disputa.

num mundo provável: Cate Blanchett, O Aviador
num mundo possível: Virgina Madsen, Sideways
num mundo perfeito: Virgina Madsen, Sideways
num mundo perdido: ninguém

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



ator coadjuvante

1 Morgan Freeman, Menina de Ouro
2 Clive Owen, Closer
3 Thomas Haden Church, Sideways
4 Alan Alda, O Aviador
5 Jamie Foxx, Colateral

O Globo de Ouro elegeu Clive Owen, o guild votou em Morgan Freeman e quase todos os prêmios de críticos deram o prêmio para Thomas Haden Church. Juntando o fato de que Alan Alda é um veteraníssimo que nunca ganhou o Oscar, parece que seria difícil prever algo aqui. Mas Freeman, mesmo repetindo seu eterno velho, sábio e amigo, tem tudo para sair oscarizado na noite de domingo: não tem um Oscar, está velho, é querido e pode ser um dos poucos prêmios para um dos favoritos da noite. Caso não ganhe, entre Owen e Church, a Academia provavelmente iria com Owen, ator sério (apesar de Rei Arthur).

num mundo provável: Morgan Freeman, Menina de Ouro
num mundo possível: Clive Owen, Closer
num mundo perfeito: Thomas Haden Church, Sideways
num mundo perdido: ninguém

24 de fev. de 2005

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



roteiro adaptado

1 Sideways, Alexander Payne e Jim Taylor
2 Menina de Ouro, Paul Haggis
3 Diários de Motocicleta, José Rivera
4 Antes do Pôr-do-Sol, Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke (roteiro), Richard Linklater e Kim Krizan (história)
5 Em Busca da Terra do Nunca, David Magee

Nas categorias de roteiro, vale muito o que já está escrito (hehe). Sideways, o filme favorito dos críticos norte-americanos ninguém sabe muito bem o porquê ganhou o prêmio de guild e, como tem poucas chances nas categorias principais, deve papar com certa facilidade esse aqui. A ameaça, forte, é a de Menina de Ouro, que pode terminar levando este prêmio como consolo, caso não ganhe filme ou diretor. No Oscar, pode tudo. Diários de Motocicleta surge enfraquecido pela disputa entre os dois e os demais não têm chances.

num mundo provável: Sideways
num mundo possível: Menina de Ouro
num mundo perfeito: Antes do Pôr-do-Sol
num mundo perdido: Em Busca da Terra do Nunca

roteiro original

1 Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Charlie Kaufman (roteiro), Charlie Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth (história)
2 O Aviador, John Logan
3 Hotel Rwanda, Keir Pearson e Terry George
4 Vera Drake, Mike Leigh
5 Os Incríveis, Brad Bird

A princípio, eu tinha dúvidas quanto à vitória de um filme que pode ser visto como brincadeira ou como radical pela Academia, mas Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças ganhou o guild dos escritores e deve repetir o prêmio aqui, um espaço onde vitórias de filme mais, digamos, alternativos são mais comuns. Caso a Academia resolva ser mais caretinha, O Aviador pode ganhar mais um, o que não seria uma má escolha. Os demais têm chances relativamente iguais, mas bem menores.

num mundo provável: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
num mundo possível: O Aviador
num mundo perfeito: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
num mundo perdido: ninguém

OSCAR: APOSTAS E PREVISÕES



fotografia

1 A Casa das Adagas Voadoras, Zhao Xiaoding
2 O Aviador, Robert Richardson
3 Eterno Amor, Bruno Delbonnel
4 A Paixão de Cristo, Caleb Deschanel
5 O Fantasma da Ópera, John Mathieson

Eterno Amor ganhou o prêmio do guild e O Aviador é uma possibilidade forte, mas aqui eu resolvi arriscar mesmo: a A Casa das Adagas Voadoras, cuja campanha era forte, ficou de fora de categorias em que era aposta certa, como filme estrangeiro, direção de arte e figurinos. Este voto, merecido, também seria uma homenagem ao belo filme de Zhang Yimou. Apesar de sempre citada, a fotografia de A Paixão de Cristo não deve ir muito longe.

num mundo provável: A Casa das Adagas Voadoras
num mundo possível: O Aviador,
num mundo perfeito: A Casa das Adagas Voadoras
num mundo perdido: O Fantasma da Ópera

montagem

1 O Aviador, Thelma Schoonmaker
2 Menina de Ouro, Joel Cox
3 Colateral, Jim Miller e Paul Rubell
4 Ray, Paul Hirsch
5 Em Busca da Terra do Nunca, Matt Chesse

O prêmio de montagem é o mais injusto do Oscar. Quase sempre os indicados reprisam os melhores filmes (aqui são quatro) e muito filme que não merece menção acaba aparecendo na lista (alguém me explique Em Busca da Terra do Nunca, por favor...). Nesse contexto, premiar a bela montagem de O Aviador, além de fazer justiça, seria conseqüência do tamanho do filme e de sua força ? e, caso o filme de Scorsese leve o prêmio de melhor filme mesmo, este seria uma reforço para sua campanha. Geralmente, o melhor filme leva a montagem também. Menina de Ouro, muito boa edição, e Colateral, muito competente, também têm chances.

num mundo provável: O Aviador
num mundo possível: Menina de Ouro
num mundo perfeito: Menina de Ouro
num mundo perdido: Em Busca da Terra do Nunca

OSCAR: APOSTAS E PREVISÕES



direção de arte e cenários

1 O Aviador
direção de arte: Dante Ferretti e cenários: Francesca Lo Schiavo
2 Desventuras em Série
direção de arte: Rick Heinrichs e cenários: Cheryl A. Carasik
3 Eterno Amor
direção de arte e cenários: Aline Bonetto
4 O Fantasma da Ópera
direção de arte: Anthony Pratt e cenários: Celia Bobak
5 Em Busca da Terra do Nunca
direção de arte: Gemma Jackson e cenários: Trisha Edwards

Dante Ferretti (com sua maravilhosa concepção visual) deve garantir mais um Oscar para O Aviador, embora haja chances de prêmio para Desventuras em Série - que ganhou no guild - se a Academia resolver apostar no fantástico. Não parece o caso. Uma alternativa seria premiar o francês Eterno Amor, com sua direção de arte estilizada, marca dos filmes de Jean-Pierre Jeunet. Os outros não têm muitas chances, apesar de essa ser a única possibilidade de prêmio para O Fantasma da Ópera.

figurinos

1 O Aviador, Sandy Powell
2 Desventuras em Série, Colleen Atwood
3 Ray, Sharen Davis
4 Tróia, Bob Ringwood
5 Em Busca da Terra do Nunca, Alexandra Byrne

É quase certo o prêmio para Sandy Powell, a melhor figurinista do momento. O filme deverá somar mais um aos prêmios de O Aviador. E será um prêmio justo. Desventuras em Série e Ray, bons trabalhos, podem até supreender, mas isso parece meio distante. Quem foi que teve a idéia de indicar Tróia?

num mundo provável: O Aviador
num mundo possível: Desventuras em Série
num mundo perfeito: O Aviador
num mundo perdido: Tróia

maquiagem

1 A Paixão de Cristo, Keith Vanderlaan e Christien Tinsley
2 Desventuras em Série, Valli O?Reilly e Bill Corso
3 Mar Adentro, Jo Allen and Manuel García

A Paixão de Cristo merece ganhar o Oscar. Mel Gibson gastou tanto dinheiro com sua epopéia arrogante neste quesito que não premiá-lo seria uma injustiça. A maquiagem é quase um ator no filme. Desventuras em Série pode surpreender, com sua aposta na magia. Mar Adentro, mais discreto, não tem muitas chances.

num mundo provável: A Paixão de Cristo
num mundo possível: Desventuras em Série
num mundo perfeito: Desventuras em Série
num mundo perdido: A Paixão de Cristo

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



trilha sonora

1 Em Busca da Terra do Nunca, Jan A.P. Kaczmarek
2 A Vila, James Newton Howard
3 Desventuras em Série, Thomas Newman
4 A Paixão de Cristo, John Debney
5 Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, John Williams

Tudo muito favorável para Em Busca da Terra do Nunca, que não tem mais chance em lugar algum. É meio improvável premiar John Williams ou John Debney - e Thomas Newman não parece estar com a bola da vez. Acho que o atalho seria minha trilha favorita, a de James Newton Howard para A Vila.

num mundo provável: Em Busca da Terra do Nunca, Jan A.P. Kaczmarek
num mundo possível: A Vila, James Newton Howard
num mundo perfeito: A Vila, James Newton Howard
num mundo perdido: A Paixão de Cristo, John Debney

canção

1 "Accidentally In Love", de Shrek 2
música de Adam Duritz, Charles Gillingham, Jim Bogios, David Immergluck, Matthew Mallery e David Bryson e letra de Adam Duritz and Daniel Vickrey
2 "Believe", de O Expresso Polar
música de Glen Ballard and Alan Silvestri
3 "Learn To Be Lonely", de O Fantasma da Ópera
música de Andrew Lloyd Webber e letra de Charles Hart
4 "Al Otro Lado Del Río", de Diários de Motocicleta
música e letra de Jorge Drexler
5 "Vois Sur Ton Chemin", de A Voz do Coração
música de Bruno Coulais e letra de Christophe Barratier

A canção dos Counting Crows para Shrek 2 não ganhou o Globo de Ouro, mas é favorita, até por vir de uma animação. Como as músicas em língua estrangeira não devem ganhar e O Fantasma da Ópera não parece apto a prêmio algum, a bobagenzinha de O Expresso Polar tem suas chances.

num mundo provável: "Accidentally In Love", de Shrek 2
num mundo possível: "Believe", de O Expresso Polar
num mundo perfeito: "Al Otro Lado Del Río", de Diários de Motocicleta
num mundo perdido: "Believe", de O Expresso Polar

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



filme estrangeiro

1 Mar Adentro (Espanha), Alejandro Amenábar
2 A Voz do Coração(França), Christophe Barratier
3 Yesterday (África do Sul), Darrell Roodt
4 As It Is in Heaven (Suécia), Kay Pollak
5 Downfall (Alemanha), Oliver Hirschbiegel

A categoria com as indicações mais injustas do Oscar (cada país escolhe um único representante oficial e é preciso comprovar que se viu os cinco filmes para votar no vencedor) é cheia de supresas. Pela lógica, Mar Adentro está anos-luz dos outros concorrentes, mas essa lógica já falhou muitas vezes antes e a não-indicação de Javier Bardem não ajuda. Mesmo assim é o favorito (e é um ótimo filme), com A Voz do Coração, fraco, correndo por fora.

num mundo provável: Mar Adentro (Espanha), Alejandro Amenábar
num mundo possível: A Voz do Coração(França), Christophe Barratier
num mundo perfeito: Mar Adentro (Espanha), Alejandro Amenábar
num mundo perdido: A Voz do Coração(França), Christophe Barratier

filme de animação

1 Os Incríveis, Brad Bird
2 Shrek 2, Andrew Adamson
3 O Espanta Tubarões, Bill Damaschka

A bilheteria de Shrek 2 não deve nem abalar a carreira de Os Incríveis, que papou todos os prêmios pré-Oscar e vai ganhar este aqui.

num mundo provável: Os Incríveis, Brad Bird
num mundo possível: Shrek 2, Andrew Adamson
num mundo perfeito: Os Incríveis, Brad Bird
num mundo perdido: O Espanta Tubarões, Bill Damaschka

OSCAR 2004: APOSTAS E PREVISÕES



sonoplastia

1 O Aviador,Tom Fleischman and Petur Hliddal
2 Homem-Aranha 2,Kevin O'Connell, Greg P. Russell, Jeffrey J. Haboush and Joseph Geisinger
3 Os Incríveis, Randy Thom, Gary A. Rizzo and Doc Kane
4 O Expresso Polar, Randy Thom, Tom Johnson, Dennis Sands e William B. Kaplan
5 Ray,Scott Millan, Greg Orloff, Bob Beemer and Steve Cantamessa

Apesar de belos serviços prestados à categoria, O Expresso Polar não deve dar muito trabalho aos concorrentes. O páreo aqui parece ser entre O Aviador, que somaria para o "escolhido" do ano; Homem-Aranha 2, a superprodução da vez; e Os Incríveis, que viria como azarão. O guild foi com o primeiro, assim como eu vou.

num mundo provável: O Aviador
num mundo possível: Homem-Aranha 2
num mundo perfeito: Homem-Aranha 2
num mundo perdido: Ray

ediçaõ de som

1 Os Incríveis, Michael Silvers e Randy Thom
2 Homem-Aranha 2, Paul N.J. Ottosson
3 O Expresso Polar, Randy Thom e Dennis Leonard

Três indicações justas. A seqüência sobre o lago de gelo justifica a aparição de O Expresso Polar. Homem-Aranha seria um prêmio mais óbvio, mais adequado, mas Os Incríveis também podem surpreender. Eu aposta na surpresa.

num mundo provável: Os Incríveis
num mundo possível: Homem-Aranha 2
num mundo perfeito: Os Incríveis
num mundo perdido: ninguém.

efeitos visuais

1 Homem-Aranha 2, John Dykstra, Scott Stokdyk, Anthony LaMolinara e John Frazier
2 Eu, Robô, John Nelson, Andrew R. Jones, Erik Nash e Joe Letteri
3 Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Roger Guyett, Tim Burke, John Richardson e Bill George

Apesar da competência de Eu, Robô (nos efeitos visuais, claro), é meio difícil não dar Homem-Aranha 2. Dar vida ao Dr. Octopus e seus tentáculos merece prêmio mesmo. Isso somado à megabilheteria. Harry Potter ganhou um "mundo perdido" não por causa da qualidade de seus efeitos, bem bons, mas porque ganhar dos dois concorrentes seria pecado. Faltou O Aviador à lista.

num mundo provável: Homem-Aranha 2
num mundo possível: Eu, Robô
num mundo perfeito: Homem-Aranha 2
num mundo perdido: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

23 de fev. de 2005

IMPRESSÕES SOBRE OS FILMES DO OSCAR

E a indicações que eles não receberam...



Antes do Pôr-do-Sol de Richard Linklater

É um filme de blá-blá-blá mesmo, sem vergonha disso. Porque não parece necessário se ter vergonha das palavras. E Linklater não tem a mínima. Apóia seu filme inteiro no texto e praticamente se ausenta de uma embalagem mais visível. Não há preocupação formal ou em fechar contornos. Nasceu para ser pequeno. E é grande por causa disso.
Merecia estar entre os melhores filmes e nas listas de direção, atriz e canção (qual quer uma das três - ou todas).

O Aviador de Martin Scorsese

Suntuoso. Menos no dinheiro gasto nele, mais na excelência que toma forma na tela. Se o tom azulado incomoda, a maneira como Scorsese dispõe os acontecimentos que formataram a história de Hughes, reflexo da recente história da América, causam um certo incômodo necessário. Scorsese abusa da beleza dos planos quando o assunto é mostrar o retratado como o homem só, triste e doente que ele guardava para si. Todas as cenas na sala de projeção de Hughes são genialmente fotografadas. Deveria ter aparecido entre os indicados para maquiagem e efeitos visuais.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças ,de Michael Gondry

Revela um autor romântico, que celebra, de sua maneira pessoal, o amor de um por outro. Autor tão embebido pelo tema que se torna relapso ao adotar lugares tão comuns quanto os que o espectador é forçado a recordar. O filme reproduz, apartado o disfarce, a idéia de amor maior que tudo, protótipo de qualquer historinha que embala aqueles livros de bolso que minha tia gostava de comprar na banca de revista. Fez falta na lista de montagem e na de trilha sonora.



A Casa das Adagas Voadoras , de Zhang Yimou

Depois do absolutamente fake Herói, Zhang Yimou finalmente acerta a mão ao voltar ao universo das artes marciais e da história da China. Se o filme anterior apelava para a abstração visual para conquistar um público de gigantes, agora o foco é numa pequena história, bem contada e com efeitos menos espetaculares e mais críveis.
Poderia ter sido lembrado entre as direções de arte, figurinos e os filmes estrangeiro.

Closer - Perto Demais , de Mike Nichols

Na ânsia de causar impacto com os temas já citados aqui, Marber apelou para lugares comuns como os diálogos com respostas rápidas e engraçadinhas ou a aparentemente ousada decisão de verbalizar nomes chulos para órgãos, personas e ações sexuais ou palavrões. Pouco para um filme inteiro, onde a direção se acomodou (ou se acovardou) na adaptação da linguagem do texto original, resumindo a tradução à reprodução. O que ganhou já é está bom demais.

Colateral, de Michael Mann

Os personagens estão enjaulados nos limites do veículo, imersos na imensidão de uma Los Angeles noturna raramente vista no cinema. São um ponto mínimo no mapa. Eles estão lá e não estão em lugar nenhum, o que cria uma experiência curiosa no deslocamento espacial da dupla. À medida que o relógio anda, a conversa entre os dois se torna mais próxima e ganha proporções filosóficas. A intimidade entre os estranhos começa a parecer calculada, esquematizada, muito pensada. A fotografia, maior mérito do filme, faz falta.



Diários de Motocicleta , de Walter Salles

A idéia de uma "viagem transformadora" é um recurso bastante usual em qualquer narrativa, seja cinematográfica ou não. Nada muito original, mas também nada de irreal. Parece bem mais honesto que os outros filme de Salles, já que desde o início há a intenção clara de mostrar alguém que ainda é um rascunho do homem que viria a ser. Sem dúvida, faltou prestigiar a performance de Rodrigo de la Serna. A trilha e a fotografia também seriam boas indicações.

Em Busca da Terra do Nunca , de Marc Forster

Tenta forçar a barra e transformar Barrie num personagem mais apaixonante do que deve ter realmente sido, abusa da sua identificação com as criancinhas fofas e explora sua essência infantil. Quer ser encantador a todo custo. E, por isso, o diretor Marc Foster passa quase duas horas tentando ser Tim Burton e explorar os limites entre a fantasia e a realidade. Não merece nada, além da direção de arte.

Eu, Robô , de Alex Proyas

O roteiro abre espaço para que o ator destile as piadas mais imbecis dos últimos tempos. Will Smith parece tão boçal e sem graça que apenas ganha credibilidade quando sua parceira está em cena. Bridget Moynahan é tão ruim que não há possível comparação com qualquer interpretação feminina neste ano. A direção de arte poderia ser uma bela indicação.



O Expresso Polar , de Robert Zemeckis

O mérito deveria ser a revolução visual, mas isso parece bem pouco para um filme tão antigo: o longa se ergue na formação da coragem e da liderança nos jovens coraçõezinhos de seus principais personagens. Só me parece justa a indicação para melhor som.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban , de Alfonso Cuarón

O mundo não é mais tão colorido e o esplendor visual pode vir da figura macabra de um dementador, a nova criatura mágica criada por Rowling. Cuarón foi responsável por uma quase-dicotomia: é o mais adolescente dos três filmes. E também é o longa mais adulto. Mistérios de quem está crescendo. Não entendo indicar o John Williams de novo por uma suíte.

Homem-Aranha 2 , de Sam Raimi

Na melhor cena do filme, o herói, sem máscara, mostra porque é o mais popular do planeta. O homem comum, o cara da esquina. A identificação do espectador e, antes dele, do leitor com o Homem-Aranha vem da sua natureza falível, próxima, quase suburbana. O herói que surge em meio ao povo. Sam Raimi é um diretor de talento. Muito talento. Nos dois filmes que fez sobre o herói, ele abraça sem concessões o espírito que Stan Lee embutiu ao aracnídeo. Se não houvesse o ranço com as HQs, estaria na lista de filme, direção, atriz coadjuvante (Rosemary Harris) e roteiro adaptado.



Os Incríveis , de Brad Bird

Delicioso exemplar da criatividade da Pixar. Mais um. Roteiro inteligente, engraçado, personagens bem construídos, situações até difíceis de algumas crianças entenderem, e tecnicamente impressionante. Indicar o roteiro parece exagero, mas o filme poderia aparecer entre as melhores montagens.

Mar Adentro , de Alejandro Amenábar

Amenábar, melhor diretor que nunca, dribla com grande propriedade as iscas deixadas pelo clichê e, em vez de fazer um grande panfleto ou de carregar nas tintas de épico pessoal redentor, realizou o filme mais bonito do ano. O mais contraditório é que se trata de um filme sobre a morte que sabe bem como defender a vida. Pra começar, Javier Bardem deveria ser o melhor ator do ano. Depois, o filme deveria estar entre os indicados na categoria principal e nas de direção, atriz coadjuvante (a ótima Manuela), trilha sonora e roteiro original.

Maria Cheia de Graça , de Joshua Marston

Examina com distanciamento político, social e religioso os caminhos do imigrante ilegal e do homem comum em busca de alguma coisa melhor. O diretor é norte-americano, mas dribla a visão viciada da questão. A protagonista Catalina Sandino Moreno, linda, está perfeita. Seria exagero mais que o filme conseguiu.



Menina de Ouro , de Clint Eastwood

Talvez seja justo dar um segundo Oscar para Clint Eastwood. A direção de Menina de Ouro é belíssima, embora Clint trabalhe em cima de um roteiro que chafurda na estereotipia quase que o tempo inteiro. O texto não é lá grande coisa e a narração em off, desnecessária, de Morgan Freeman é uma sucessão de frases feitas. Mas o que menos importa é a história que se conta aqui, mas o tratamento que ela ganhou. Faltou aparecer na lista das melhores montagem e na de trilhas. Morgan Freeman, meu amigo, tá bom de você arrumar outro papel.

A Paixão de Cristo , de Mel Gibson

Difícil levar a sério alguém que precisa espancar seu próprio deus para apontar sua verdade. Difícil mesmo é acreditar nas intenções conciliatórias de alguém que baniu homossexuais do elenco e da equipe técnica de seu filme. Mel Gibson é tão autoritário quanto George W. Bush na sua invasão ao Iraque. É tão inescrupuloso quanto o policial torturador que espanca sua vítima até que ela confesse pelo crime que nunca cometeu. Maquiagem. Que deve ter custado caro.

Ray , de Taylor Hackford

Se existe um mérito na biografia cinematográfica de Ray Charles é justamente mostrar sem muitos pudores o músico como junkie e com certas doses de mau caratismo. Mas Taylor Hackford parece acreditar que finais têm que parecer finais. O filme quer terminar de bem com todos, fechar questões, aparar arestas. A cena onde Ray Charles faz as pazes com os fantasmas de sua família é particulatmente constrangedora. Não merece muito mais que a indicação de Jamie Foxx.



Shrek 2 , de Andrew Adamson

É tão bom quanto o primeiro, mas confesso que questiono se isso não é pouco. Novamente vem o delicioso sarcasmo de escolhas como colocar a Fada Madrinha no papel de vilã ou fazer um Gato de Botas impressionantemente bem resolvido (Antonio Banderas na sua melhor forma desde Almodóvar). Ora, Antonio Banderas está perfeito.

Sideways , de Alexander Payne

A princípio, parece um exemplo típico do filme independente norte-americano que faz mais pose de que tem algo a dizer. Mas isso muda e Alexander Payne, mais uma vez, reflete sobre a solidão e a significação. A rainha do filme é Virginia Madsen, velha, linda e boa atriz. A trilha de Rolfe Kent é bem boa.

Tróia , de Wolfgang Petersen

Tirando o fato de que seus protagonistas resolveram tirar férias da arte de interpretar justamente durante a gravação das cenas do filme, Tróia até que tem seus bons momentos. A luta que abre o filme é empolgante, com um salto fatal provavelmente ajudado pelos computadores. Cortesia de Wolfgang Petersen, que já foi muito melhor antes de se entregar à máquina hollywoodiana. Não, nem os figurinos.



A Vila , de M. Night Shyamalan

Seus defensores enxergam no filme uma crítica à formação do povo norte-americano, que versa sobre como este povo foi construído sobre terreno pantanoso, idéias frágéis, alienação. Pode até ser. Mas Shyamalan se empenha com tanta dedicação a sua criação, que se aparta de sua trama para nos revelar, ainda que sem querer, o processo. Existe uma necessidade quase que obrigatória de se explicar em texto o que está acontecendo. Ora, se falta consistência à tentativa de mensagem de uma trama mal costurada, sobra o quê? Concorre no único quesito que, a meu ver, é merecido.

A Voz do Coração , de Christophe Baratier

Tudo é muito bonitinho, arrumadinho, encantadorzinho, com muita música, composta pelo próprio diretor. E a linha segue sem criatividade até o clímax maior, que reprisa uma dezenas de filmes, suprindo sedes de justiça e enchendo nosso peito de emoção. Oh, capitain, my capitain.... Ops, este é outro filme... Por mim, não concorreria a nada.


 
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