[f i l m e s d o c h i c o]

30 de set. de 2005

Oscar 2005: previsões
primeira rodada: outubro de 2005

Todo ano eu faço minhas apostas para o Oscar. Neste ano, resolvi assumir a doença e começar a fazê-las muitos meses antes da cerimônia, como fazem muitos sites especializados pelo mundo todo. Vou tentar atualizar as minhas apostas mensalmente. Seguem os favoritos - ou pelo menos os que parecem ser - nas principais categorias.




filme

1 Munich (Universal), de Steven Spielberg
2 The New World (New Line), de Terrence Malick
3 Brokeback Mountain (Focus Features), de Ang Lee
4 Jarhead (Universal), de Sam Mendes
5 Walk the Line (Fox), de James Mangold

na disputa: 6 All the King's Men (Columbia), de Steve Zaillian; 7 Memoirs of a Geisha (Columbia), de Rob Marshall; 8 Mrs. Henderson Presents (The Weinstein Company), de Stephen Frears; 9 Match Point (Dreamworks), de Woody Allen; 10 The Family Stone (Fox), de Thomas Bezucha; 11 In Her Shoes (Fox), de Curtis Hanson; 12 The White Countess (SPC), de James Ivory; 13 A Luta pela Esperança (Universal), de Ron Howard; 14 Crash (Lions Gate), de Paul Haggis; 15 Good Night, and Good Luck (Warner Independent Pictures), de George Clooney.


direção

1 Ang Lee, por Brokeback Mountain
2 Steven Spielberg, por Munich
3 Woody Allen, por Match Point
4 Terrence Malick, por The New World
5 Sam Mendes, por Jarhead

na disputa: 6 George Clooney, por Good Night, And Good Luck; 7 James Mangold, por Walk the Line; 8 Steve Zaillian, por All the King's Men; 9 Tommy Lee Jones, por The Three Burials of Melquiades Estrada; 10 Rob Marshall, por Memoirs of a Geisha; 11 Stephen Frears, por Mrs. Henderson Presents; 12 Paul Haggis, por Crash; 13 David Cronenberg, por A History of Violence; 14 James Ivory, por The White Countess; 15 Curtis Hanson, por In Her Shoes.


ator

1 Joaquin Phoenix, por Walk the Line
2 David Strathairn, por Good Night, And Good Luck
3 Ralph Fiennes, por The White Countess
4 Phillip Seymour Hoffman, por Capote
5 Tommy Lee Jones, por The Three Burials of Melquiades Estrada

na disputa: 6 Heath Ledger, por Brokeback Mountain; 7 Sean Penn, por All the King's Men; 8 Cillian Murphy, por Breakfast On Pluto; 9 Russell Crowe, por A Luta pela Esperança; 10 Viggo Mortensen, por A History of Violence; 11 Jake Gyllenhaal, por Jarhead; 12 Ralph Fiennes, por O Jardineiro Fiel; 13 Bill Murray, por Broken Flowers; 14 Eric Bana, por Munich; 15 George Clooney, por Syriana.


atriz

1 Reese Whitterspoon, por Walk the Line
2 Judi Dench, por Mrs. Henderson Presents
3 Charlize Theron, por North Country
4 Diane Keaton, por The Family Stone
5 Felicity Huffman, por Transamerica

na disputa: 6 Joan Allen, por A Outra Face da Raiva; 7 Claire Danes, por Shopgirl; 8 Zhang Ziyi, por Memoirs of a Geisha; 9 Julianne Moore, por The Prize Winner of Defiance, Ohio; 10 Gwyneth Paltrow, por Proof; 11 Juliette Binoche, por Bee Season; 12 Meryl Streep, por Prime; 13 Keira Knightley, por Pride and Prejudice; 14 Radha Mitchell, por Melinda & Melinda; 15 Natasha Richardson, por The White Countess.


roteiro original

1 Woody Allen, por Match Point
2 Paul Haggis & Bobby Moresco, por Crash
3 Guillermo Arriaga, por The Three Burials of Melquiades Estrada
4 Tony Kushner & Eric Roth, por Munich
5 George Clooney & Grant Heslov, por Good Night, And Good Luck

na disputa: 6 Thomas Bezucha, por The Family Stone; 7 Terrence Malick, por The New World; 8 Kazuo Ishiguro, por The White Countess; 9 Martin Sherman, por Mrs. Henderson Presents; 10 Cameron Crowe, por Elizabethtown; 11 Akiva Goldsman & Cliff Hollingsworth, por A Luta pela Esperança; 12 Jim Jarmusch, por Broken Flowers; 13 Ben Younger, por Prime; 14 Woody Allen, por Melinda & Melinda; 15 Nick Park, por Wallace & Gromit em A Batalha dos Vegetais.


roteiro adaptado

1 Larry McMurtry & Diana Ossana, por Brokeback Mountain
2 Susannah Grant, por In Her Shoes
3 William Broyles, Jr, por Jarhead
4 Gill Dennis & James Mangold, por Walk the Line
5 Steve Zaillian, por All the King's Men

na disputa: 6 Steve Martin, por Shopgirl; 7 Ron Bass & Akiva Goldsman & Robin Swicord & Doug Wright, por Memoirs of a Geisha; 8 Jeffrey Caine, por O Jardineiro Fiel; 9 Michael Seitzman, por North Country; 10 Josh Olson, por A History of Violence; 11 Stephen Gaghan, por Syriana; 12 Naomi Foner, por Bee Season; 13 Dan Futterman, por Capote; 14 Rebecca Miller & David Auburn, por Proof; 15 Neil Jordan, por Breakfast On Pluto.


ator coadjuvante

1 Peter Sarsgaard, por Jarhead
2 Bob Hoskins, por Mrs. Henderson Presents
3 Christopher Plummer, por The New World
4 Clifton Collins Jr., por Capote
5 Matt Dillon, por Crash

na disputa: 6 Paul Giamatti, por A Luta pela Esperança; 7 Jake Gyllenhaal, por Brokeback Mountain; 8 Barry Pepper, por The Three Burials of Melquiades Estrada; 9 Geoffrey Rush, por Munich; 10 Ed Harris, por A History of Violence; 11 Jude Law, por All the King's Men; 12 Jamie Foxx, por Jarhead; 13 Daniel Craig, por Munich; 14 Kevin Costner, por A Outra Face da Raiva; 15 William Hurt, por A History of Violence.


atriz coadjuvante

1 Shirley Maclaine, por In Her Shoes
2 Maria Bello, por A History of Violence
3 Frances McDormand, por North Country
4 Patricia Clarkson, por All the King's Men
5 Scarlett Johansson, por Match Point

na disputa: 6 Toni Collette, In Her Shoes; 7 Michelle Williams, Brokeback Mountain; 8 Gong Li, Memoirs of a Geisha; 9 Thandie Newton, Crash; 10 Catherine Keener, Capote; 11 Susan Sarandon, Elizabethtown; 12 Q' Oriana Kilcher, The New World; 13 Kate Winslet, All the King's Men; 14 Patricia Clarkson, por Good Night, And Good Luck; 15 Rachel Weisz, O Jardineiro Fiel.


filme estrangeiro

1 Caché (Áustria), de Michael Haneke
2 Sophie Scholl - The Final Days (Alemanha), de Marc Rothemund
3 Joyeux Noël (França), de Christian Carion
4 Tsotsi (África do Sul), de Gavin Hood
5 The Promise (China), de Chen Kaige

na disputa: 6 Obaba (Espanha), de ?; 7 Perhaps Love (Hong Kong), de Peter Chan; 8 C.R.A.Z.Y (Canadá), de Jean-Marc Vallée; 9 Mother of Mind (Finlândia), de Klaus Härö; 10 Zozo (Suécia), de Josef Fares; 11 L'Enfant (Bélgica), de Jean-Pierre & Luc Dardenne; 12 Mystery (Índia), de Amol Palekar; 13 Totally Personal (Bósnia-Herzegovina), de Nedz¹ad Begovic; 14 2 Filhos de Francisco (Brasil), de Breno Silveira; 15 Adams Apple (Dinamarca), de Anders Thomas Jensen.


documentário

1 A Marcha do Imperador, de Luc Jacquet
2 Murderball, de Henry Rubin & Dana Shapiro
3 Rize, de David LaChapelle
4 Mad Hot Ballroom, de Marilyn Agrelo
5 Grizzly Man, de Werner Herzog

na disputa: 6 Enron: The Smartest Guys in the Room, de Alex Gibney; 7 Sicko, de Michael Moore; 8 Inside Deep Throat, de Fenton Bailey e Randy Barbato; 9 The Aristocrats, de Paul Provenza.


animação

1 A Noiva-Cadáver, de Tim Burton
2 Wallace & Gromit em A Batalha dos Vegetais, de de Steve Box e Nick Park
3 Madagascar, de Eric Darnell e e Tom McGrath

na disputa: 4 O Galinho Chicken Little, de Mark Dindal; 5 O Castelo Animado, de Hayao Miyazaki; 6 Robôs, de Chris Wedge; 7 Steamboy, de Katshuhiro Otomo; 8 Valiant, de Gary Chapman; 9 Pooh e o Efalante, de Frank Nissen.

Oscar 2005: previsões
primeira rodada: outubro de 2005

Continuação das previsões para o Oscar 2005. A idéia é atualizá-las mensalmente. Obviamente, o chute impera, sobretudo em categorias como "melhor canção", em que mal se sabe se o filme as tem.

fotografia

1 Dion Beebe, por Memoirs of a Geisha
2 Emmanuel Lubezki, por The New World
3 Rodrigo Prieto, por Brokeback Mountain
4 Roger Deakins, por Jarhead0
5 Janusz Kaminski, por Munich

na disputa: 6 Robert Elswit, por Good Night, And Good Luck; 7 Pawel Edelman, por All the King's Men; 8 Chris Menges, por The Three Burials of Melquiades Estrada; 9 Salvatore Totino, por A Luta pela Esperança; 10 Christopher Doyle & Tony Pierce Roberts, por The White Countess; 11 Andrew Lesnie, por King Kong; 12 César Charlone, por O Jardineiro Fiel; 13 Chris Menges, por North Country; 14 Pawel Edelman, por Oliver Twist; 15 Philipe Rousselot, por A Fantástica Fábrica de Chocolate.


montagem

1 Michael Kahn, por Munich
2 Walter Murch, por Jarhead
3 Richard Chew & Hank Corwin & Saar Klein, por The New World
4 Geraldine Peroni & Dylan Tichenor, por Brokeback Mountain
5 Michael McCusker, por Walk the Line

na disputa: 6 Pietro Scalia, por Memoirs of a Geisha; 7 Hughes Winborne, por Crash; 8 Wayne Wahrman, por All the King's Men; 9 Jamie Selkirk, por King Kong; 10 Claire Simpson, por O Jardineiro Fiel; 11 Daniel Hanley & Mike Hill, por A Luta pela Esperança; 12 Stephen Mirrione, por Good Night, And Good Luck; 13 Ronald Sanders, por A History of Violence; 14 Michael Kahn , por Guerra dos Mundos; 15 Richard Pearson, por Rent.


trilha sonora

1 John Williams, por Memoirs of a Geisha
2 Gustavo Santaolalla, por Brokeback Mountain
3 James Horner & J. Peter Robinson, por The New World
4 Thomas Newman, por A Luta pela Esperança
5 Danny Elfman, por A Fantástica Fábrica de Chocolate

na disputa: 6 John Williams, por Munich; 7 Danny Elfman, por A Noiva-Cadáver; 8 Thomas Newman, por Jarhead; 9 Howard Shore, por King Kong; 10 George Fenton, por Mrs. Henderson Presents; 11 Mark Isham, por In Her Shoes; 12 Michael Giacchino, por The Family Stone; 13 Richard Robbins, por The White Countess; 14 John Williams, por Guerra dos Mundos; 15 Harry Gregson- Williams, por As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.


canção

1 "The Maker Makes" (Rufus Wainwright), de Brokeback Mountain
2 "Tears to Shed" (Danny Elfman e John August), de A Noiva-Cadáver
3 "Same In Any Language" (Nancy Wilson e Cameron Crowe), de Elizabethtown
4 "?" (?), de The Producers
5 "?" (?), de In Her Shoes

na disputa: 6 "?" (?), de Brokeback Mountain; 7 "Into the Blue" (Bird York), de Crash; 8 "I'll Be With You" (Scott Mallone), de Bee Season; 9 "?" (?), de A Fantástica Fábrica de Chocolate; 10 "?" (?), de Madagascar; 11 "To Die For" (Howard Shore), de A History of Violence; 12 "?" (?), de Hustle & Flow; 13 "?" (?), de Get Rich Or Die Tryin?; 14 "?" (?), de Memoirs of a Geisha; 15 "?" (?), de King Kong


direção de arte

1 John Myhre, por Memoirs of a Geisha
2 Jack Fisk, por The New World
3 Alex McDowell, por A Fantástica Fábrica de Chocolate
4 Grant Major, por King Kong
5 Wynn Thomas, por A Luta pela Esperança

na disputa: 6 Hugo Luczyc Whyhowski, por Mrs. Henderson Presents; 7 Roger Ford, por As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 8 Patricia von Brandenstein, por All The King's Men; 9 Judy Becker, por Brokeback Mountain; 10 Mark Friedberg, por The Producers; 11 Allan Starski, por Oliver Twist; 12 ?, por Munich; 13 David Gropman, por Casanova; 14 ?, por The White Countess; 15 James D. Bissell, por Good Night, And Good Luck.


figurinos

1 Colleen Atwood, por Memoirs of a Geisha
2 Sandy Powell, por Mrs. Henderson Presents
3 Jacqueline West, por The New World
4 Anna B Shephard, por Oliver Twist
5 Gabriela Pescucci, por A Fantástica Fábrica de Chocolate

na disputa: 6 ?, por The White Countess; 7 Jenny Beavan, por Casanova; 8 Jacqueline Durran, por Pride and Prejudice; 9 Arianne Phillips, por Walk the Line; 10 Isis Mussenden, por As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 11 Daniel Orlandi, por A Luta pela Esperança; 12 William Ivey Long, por The Producers; 13 Janty Yates, por Cruzada; 14 Gabriela Pescucci, por Os Irmãos Grimm; 15 Trisha Biggar, por Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith.


maquiagem

1 Os Irmãos Grimm
2 Memoirs of a Geisha
3 A Fantástica Fábrica de Chocolate

na disputa: 4 Oliver Twist; 5 The New World; 6 As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 7 Casanova; 8 Sin City; 9 Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith.


sonoplastia

1 Jarhead
2 King Kong
3 Guerra dos Mundos
4 Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
5 The New World

na disputa: 6 Walk the Line; 7 The Producers; 8 Munich; 9 As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 10 Batman Begins; 11 Brokeback Mountain; 12 Memoirs of a Geisha; 13 Rent; 14 Sin City; 15 A Lenda do Zorro.


edição de som

1 Guerra dos Mundos
2 King Kong
3 Jarhead

na disputa: 4 Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith; 5 Batman Begins; 6 Cruzada; 7 Sin City; 8 As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 9 A Noiva-Cadáver.


efeitos visuais

1 King Kong
2 Guerra dos Mundos
3 Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith

na disputa: 4 As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; 5 Batman Begins; 6 Harry Potter e o Cálice de Fogo; 7 Sin City; 8 Constantine; 9 Jarhead.

29 de set. de 2005

Ranking do ano (até setembro)



melhores do ano

1 (1) Clean, de Olivier Assayas
2 (2) Um Filme Falado, de Manoel de Oliveira
3 (4) A Menina Santa, de Lucrecia Martel
4 (3) Bom Dia, Noite, de Marco Bellocchio
5 (6) Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg
6 (5) A Vida Marinha com Steve Zissou, de Wes Anderson
7 (7) O Aviador, de Martin Scorsese
8 (8) Terra dos Mortos, de George A. Romero
9 (9) Mar Adentro, de Alejandro Amenábar
10 (R) Oldboy, de Chanwook Park.

Olivier Assayas e Manoel de Oliveira ainda são os donos do ano. Pouca coisa mudou: Spielberg subiu uma posição e o filme de Wes Anderson, caiu. O mesmo aconteceu com Lucrecia Martel, que trocou de posição com Marco Bellocchio. A revisão de Oldboy jogou o filme de volta nos dez mais do ano. É a memória informando seus escolhidos.



piores do ano

1 (1) Quanto Vale ou é por Quilo?, de Sérgio Bianchi
2 (2) Em Busca da Terra do Nunca, de Marc Foster
3 (3) Closer - Perto Demais, de Mike Nichols
4 (4) Provocação, de Tod Williams
5 (5) Contra a Parede, de Fatih Akin
6 (6) Jogos Mortais, de James Wan
7 (7) O Massacre da Serra Elétrica, de Marcus Nispel
8 (8) O Operário, de Brad Anderson
9 (N) Quatro Irmãos, de John Singleton
10 (9) Blade: Trinity, de David S. Goyer

Bianchi segue imutável na primeira colocação com sua denúncia fuleira para enganar trouxa. Novidade apenas na entrada do novo John Singleton, que nem refilmando - ou fazendo releitura, como é mais moderno dizer - de western clássico conseguiu me convencer que presta.

Quem quiser dar uma olhada nas notas de zero a dez para cada filme visto entre os que estrearam em circuito neste ano pode ir em Números do Chico. No sábado pela manhã, viajo para o Rio de Janeiro para pegar os últimos dia do Festival do Rio. Vamos ver o que acontece já que tem muita coisa esgotada. Lá não vai ser tão fácil atualizar o blogue, mas vou tentar. Antes de viajar, ainda nesta sexta, espero ter tempo para postar minha primeira rodada de apostas para cada categoria do Oscar 2005.

26 de set. de 2005

O mundo, mais triste



Maxwell Smart não vai mais atender seu sapatofone. Don Adams, o intérprete do agente 86, morreu hoje, aos 82 anos.

Alguém aí lembra de algum filme que tenha uma cena de um velhinho (ou um adulto) se debatendo contra algum aparelho tecnológico, tipo DVD, televisão, computador? O filme não precisa ter este tema, é apenas a cena mesmo. Quem souber, me dá um toque. Estou precisando para ilustrar um VT aqui na TV.

25 de set. de 2005



Oldboy , de Chanwook Park.

Impressionante a catapulta que foi assistir a este filme fora de um festival, como aconteceu durante a Mostra de Cinema de São Paulo, no ano passado. Old Boy, do qual eu já tinha gostado, revelou-se um filme muito melhor do que eu guardava na memória. Chanwook Park, além do notável dominío sobre o tempo no cinema, tem uma noção espacial assustadora. Consegue aproveitar cada espaço mínimo de forma a multiplicar a geografia de seu filme. A saga de vingança, estruturada numa teia tão inteligente quanto intrincada e bem resolvida, talvez seja o filme mais plástico do ano. Outro ponto que eu tinha deixado passar na Mostra do ano passado - foi o quarto ou quinto filme do dia - foi a trilha sonora, uma obra-prima, que desde já é minha favorita em 2005. Os capítulos 1 e 3 da trilogia da qual Oldboy pertence vão ser exibidos no Festival do Rio, onde eu aterrisso no sábado. Os ingressos antecipados já estão esgotados. Resta implorar um dos 20% restantes na porta do cinema, no dia da sessão...

P.S.: o resultado da enquete "quais os cinco atores coadjuvantes que você acha que vão concorrer ao Alfred?" está nos comments deste post. E tem nova enquete no pop-up: atrizes coadjuvantes.

Oscar 2005: uma primeira idéia

Uma das mais deliciosas coisas do ano é a hora de tentar adivinhar quem vai concorrer ao Oscar. Vou começar hoje a fazer minhas previsões falando dos títulos que têm mais chances. Obviamente, tudo ainda é tiro no escuro já que muitos filmes ainda nem foram lançados mesmo nos Estados Unidos.



Brokeback Mountain, de Ang Lee.

O filme de Ang Lee foi muito bem recebido pela crítica, ganhou o Leão de Ouro em Veneza e tem tudo para ser um filme com muitos representantes na noite do Oscar. Pode emplacar filme, direção, roteiro adaptado, fotografia, montagem, trilha, canção e quem sabe render uma indicação de ator para o Heath Ledger.

Memoirs of a Geisha, de Rob Marshall.

O roteiro passou pelas mãos de Spielberg e foi parar nas mãos do diretor de Chicago, que ganhou Oscar pra caramba. Pode aparecer entre os melhores filmes e diretores, mas deve fazer bonito mesmo nas categorias técnicas, como fotografia, direção de arte, figurinos, montagem, trilha e som. Zhang Ziyi, melhor atriz? É possível. Gong Li ou Michelle Yeoh entre as coadjuvantes? Também.

Breakfast On Pluto, de Neil Jordan.

Filme de ator: Cillian Murphy, cotadíssimo. Roteiro adaptado ou um dos coadjuvantes de luxo (Stephen Rea, Brendan Gleeson ou outro - tem um mais provável deque não lembro agora - mas todos têm chances pequenas).

King Kong, de Peter Jackson.

Se a Trilogia do Anel emplacou mesmo, ele sai do abismo dos prêmios muito técnicos (efeitos visuais, som e edição de som). Pode aparecer com fotografia, montagem, direção de arte, trilha e, quem sabe, alguma categoria maior...

North Country, de Niki Caro.

Charlize Theron, mulher forte, melhor atriz. Frances McDormand, mais forte ainda, atriz coadjuvante.

Crash, de Paul Haggis.

O diretor escreveu Menina de Ouro. A história meio-Magnólia deste aqui deve render um roteiro original, talvez montagem. Matt Dillon está sendo apontado como um dos favoritos para ator coadjuvante. Thandie Newton e Terrance Howard também têm chances. Filme e direção são mais difíceis, mas o filme pode ser a surpresa independente.

O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles.

Duvido muito que o Meirelles emplaque, mas não é impossível. Ralph Fiennes tinha tudo para conseguir entrar, mas o diplomata cego que ele interpreta em The White Countess parece ter mais chances. Quem sabe não sobra pra gracinha da Rachel Weiz? Roteiro adaptado, bem capaz.

Jarhead, de Sam Mendes.

O filme de guerra barra-pesada pode ser um sucesso a la Platoon ou ficar com as técnicas de montagem, som, fotografia. Se emplacar, pode conseguir filme, direção, roteiro adaptado, entre outras. Peter Sarsgaard deve ser o representante do elenco na noite do Oscar.

A Luta pela Esperança, de Ron Howard.

Deveria ter sido lançado no fim do ano passado e concorrer neste ano, mas tudo atrasou e foi jogado para o meio do ano, época fraca para oscarizáveis. como não fez sucesso de público, só leva algo grande se a Academia entrar na do Ron Howard, o que não é tão complicado já que eles engoliram Uma Mente Brilhante. Mesmo assim, é difícil. Tem mais chances com o coadjuvante Paul Giamatti e a direção de arte, figurinos e trilha.



Mrs. Henderson Presents, de Stephen Frears.

Os irmãos Weinstein devem investir pesado na campanha, herança do seu comando na Miramax. Se for muito boa, pode até entrar em filme e direção. Se não, deve se limitar a roteiro original, direção de arte e fugurinos, talvez trilha, e a aposta certeira da Judi Dench e a quase certeira do Bob Hoskins.

All the King's Men, de Steven Zaillian.

Tudo pode acontecer. O cara escreveu A Lista de Schindler e Gangues de Nova York. mas refilmagem (e de filme que ganhou o Oscar - A Grande Ilusão, 1949 - raramente se dá muito bem. Pode entrar em filme e direção porque faz a linha filmão sério e político. Mas certo é roteiro adaptado, ator (Penn, no auge do carisma), algum coadjuvante (Jude Law, Patricia Clarkson) e montagem.

Match Point, de Woody Allen.

Sucesso nos festivais. O maior de Allen em muito tempo. Há quem o considere seriamente para diretor. Roteiro original é certeza. E a Scarlett Johansson pode finalmente tirar o atraso da não-indicação por Encontros e Desencontros.

Walk the Line, de James Mangold.

A história de Johnny Cash pode pegar carona no sucesso de Ray e emplacar melhor filme e direção. Certeza é Joaquin Phoenix como melhor ator e Reese Whitterspoon como atriz ou atriz coadjuvante. Mais montagem, direção de arte, figurinos e som.

The Three Burials of Melquiades Estrada, de Tommy Lee Jones.

A Academia tem um amor especial por ator que dirige. Acho que não emplaca filme, mas Lee Jones pode ser lembrado pela direção e pela interpretação. Roteiro original, talvez. Barry Pepper pode roubar uma vaguinha de coadjuvante.

Syriana, de Stephen Gaghan.

Só tem chances em roteiro (ainda não foi definido se é original ou adaptado) e montagem. Talvez uma indicação de ator para o George Clooney.

Elizabethtown, de Cameron Crowe.

Dois Jerry Maguire na vida de Cameron Crowe? Impossível. Ainda mais se seu astro é a mala do Orlando Bloom. Kirsten Dunst e, mais provavelmente, Susan Sarandon têm bem mais chances. Roteiro original e canção talvez.

Munich, de Steven Spielberg.

O novo filme sério do diretor tem cara de muitas indicações: filme, direção, roteiro original, montagem. Talvez fotografia, trilha, direção de arte e som. Entre os atores, não parece tão forte, mas o Geoffrey Rush pode aparecer entre os coadjuvantes.



The New World, de Terrence Malick.

A nova volta do malditão Terrence Malick está sendo cotada como indicação certa em filme e direção, mas a versão do diretor para a história de Pocahontas parece mais certeza nas categorias "de época": direção de arte, figurinos (talvez maquiagem) e mais fotografia, montagem e som. Christopher Plummer, coadjuvante, pode ter a primeira indicação. A novata Q'Orianka Kilcher entre as melhores atrizes? Duvido muito. Como coadjuvante, who knows?

Good Night, And Good Luck, de George Clooney.

Cresceu bastante depois do Festival de Toronto. Clooney pode emplacar entre os diretores. David Strathairn (ator) é uma boa aposta. Roteiro e fotografia também. E ainda tem direção de arte. A Patricia Clarkson e o próprio Clooney, again, como coadjuvante, têm chances. O grande ponto contra é que, sendo todo em preto-e-branco, pode ser considerado difícil.

The Producers, de Susan Stroman.

O gênero americaníssimo: musical. Roteiro adpatado, direção de arte, canção, som e, se for muito bem-sucedido, pode emplacar mais.

The White Countess, de James Ivory.

Raplh Fiennes, cego, melhor ator. Talvez roteiro original e as indicações praxe do James Ivory (direção de arte e figurinos). Se quiserem celebrar o último fruto do casamento Ivory-Ismail Merchant, este morto há pouco, pode rolar filme ou direção.

A History of Violence, de David Cronenberg.

Há quem aposte no Cronenberg, mas não acho que role. Maria Bello, coadjuvante, está cotadíssima, ainda mais depois de terem esquecido a moça por The Cooler. Ed Harris, outro grande favorito da Academia, pode emplacar mais uma indicação (coadjuvante). Viggo Mortensen, protagonista, tem sido citado com reservas.

Capote, de Bennett Miller.

A campanha está tímida, mas eu aposto no Philip Seymour Hoffman na pele do escritor. Grande ator, nunca lembrado. Catherine Keener pode surgir entre as coadjuvantes, mas quem viu seu nome crescer muito depois de Toronto foi Clifton Collins Jr. Roteiro adaptado pode ser.

Transamerica, de Duncan Tucker.

Felicity Huffman, da série Desperate Housewives, na pele de um transexual. Se a Academia for muito moderna, melhor atriz.

The Family Stone, de Thomas Bezucha.

A aposta Laços de Ternura do ano. Ninguém duvida da indicação da Diane Keaton, mas pode rolar um roteiro original e os mais crentes apontam até filme e direção. Pode aparecer em canção e com as coadjuvantes Sarah Jessica Parker e Rachel McAdams.

A Outra Face da Raiva, de Mike Binder.

Somente atriz (Joan Allen) e ator coadjuvante (Kevin Costner). Talvez roteiro e canção. Se emplacar, vai comprovar sua força porque foi lançado no primeiro semestre.

Melinda & Melinda, de Woody Allen.

Match Point deixa as coisas difíceis para esse, mas vá lá: chances mínimas para atriz (Radha Mitchell) e roteiro original.

Bee Season, de Scott McGehee e David Siegel.

Dois diretores? Eu, hein? Fala-se em chances para Juliette Binoche e Ricard Gere, atriz e coadjuvante. Poucas chances.

In Her Shoes, de Curtis Hanson.

Boa aposta. Filme de família que pode até aparecer nas duas categorias principais. Roteiro adaptado é mais certeza e fale-se muito de Shirley MacLaine e Toni Collette entre as coadjuvantes. Canção também.

Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg.

Dakota Fanning seria genial, mas não vai rolar. Sobram as de sempre: som, edição de som e efeitos visuais. Chances para trilha e montagem.

E mais:

Broken Flowers, de Jim Jarmusch - Bill Murray, ator. Mas é difícil.
The Prize Winner of Defiance, Ohio, de Jane Anderson - Só e unicamente Julianne Moore.
Proof, de John Madden - Só e unicamente Gwyneth Paltrow.
Shopgirl, de Steve Martin - Só e unicamente Claire Danes.
The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe, de Andrew Adamson - Técnicas: direção de arte, figurinos, maquiagem, efietos visuais, som.
Batman Begins, de Christopher Nolan - Som, efeitos visuais, edição de som.
Everything Is Illuminated, de Liev Schreiber - Roteiro e uma muito longínqua chance para o Elijah Wood.
Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais, de Steve Box e Nick Park - animação e, num mundo mais ingênuo, roteiro original.
A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton - Direção de arte e figurinos, talvez maquiagem e trilha.
Os Irmãos Grimm, de Terry Gilliam - Direção de arte e figurinos, talvez maquiagem e trilha.
Cruzada, de Ridley Scott - sorte se emplacar alguma coisa, de direção de arte e figurinos a som.
A Noiva-Cadáver, de Tim Burton - certeza em animação e pode rolar trilha e canção.
Oliver Twist, de Roman Polanski - As técnicas-artísticas (cenografia, figurinos, maquiagem, trilha).
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith, de George Lucas - técnicas: som, edição de som, efeitos visuais. Se forem nostálgicos, fim de série e tudo mais, trilha.
Madagascar, de Eric Darnell e Tom McGrath - o lobby da Dreamworks pode roubar a vaga de um filme melhor entre as animações.
O Galinho Chicken Little, de Mark Dindal - animação, mas não é certeza.
O Castelo Animado, de Hayao Miyazaki - chances menores neste ano. Só se forem cinco animações.

24 de set. de 2005

O herói de cada um



Estamos na América, a terra dos bravos e da liberdade, a terra da justiça, a terra dos sonhos. Nessa América, os heróis são os homens comuns, que inspiram os outros homens comuns em seu difícil dia-a-dia, sobretudo nesses anos da Grande Depressão. Se o dinheiro destruiu o país, a honra, a fé (e por que não a glória?) ressurgem nos lares americanos pelos exemplos de obstinação. Exemplos como o do boxeador Jim Braddock, que depois de cair no ostracismo, arranjar sub-empregos e mendigar o pão dos filhos, volta aos ringues para derrubar, um a um, seus inimigos, os inimigos da América simples, da América verdadeira, da América da Sol.

Para contar esta história exemplar, ninguém melhor do que um diretor que adora uma cartilha, Ron Howard. Grande conhecedor do assunto "clichês", o rapaz com cara de macaco albino conseguiu imprimir à versão cinematográfica da saga do Homem-Cinderela um gosto de filme antigo, de coisa velha mesmo. Fotografia com cores cuidadosamente amenizadas, trilha sonora rasga-coração e estereótipos cuidadosamente mantidos: esposa forte e quietinha (Renée Zellweger sem sal nem açúcar), amigo-mentor engraçado e de bom coração (Paul Giamatti num papel que não ganha densidade nunca), vilão muito perverso (Craig Bierko em campanha pelo Framboesa de Ouro) e poderoso chefão ganancioso e impiedoso.

Mas o maior problema do filme é mesmo sua personagem central. Russell Crowe, que é um bom ator embora seja uma pessoa bem questionável, se esqueceu de dar qualquer credibilidade a seu papel. Ele, justamente ele, o australiano que vive distribuindo sopapos, resolveu interpretar um homem que não existe. Culpa talvez maior do roteirista e do diretor, que criaram um homem sem defeitos. Nos dias de hoje, fazer um filme que não tem nenhuma nuance e que se limita à primeira e rasa versão da história pudica e débil que pretende contar é quase criminoso; é brincar com a inteligência do espectador. Espectador que não foi ao cinema e, assim, condenou a campanha do filme ao Oscar (que parece ser o único motivo para este longa existir).
Pelo menos, uma coisa vale a pena: Crowe leva muita porrada.

A Luta pela Esperança
Cinderella Man, Estados Unidos, 2005.
Direção:: Ron Howard.
Roteiro: Cliff Hollingsworth e Akiva Goldsman, baseado em estória de Cliff Hollingsworth.
Elenco: Russell Crowe, Renée Zellweger, Paul Giamatti, Craig Bierko, Paddy Considine, Bruce McGill, David Huband, Connor Price, Ariel Waller, Patrick Louis, Rosemarie DeWitt, Linda Kash, Nicholas Campbell, Gene Pyrz, Chuck Samata, Ron Canada, Alicia Johnston, Troy Amos-Ross, Mark Simmons, Art Binkowski.
Fotografia: Salvatore Totino. Montagem: Daniel P. Hanley e Mike Hill. Direção de Arte: Wynn Thomas. Música: Thomas Newman. Figurino: Daniel Orlandi. Produção: Brian Grazer, Ron Howard e Penny Marshall. Site Oficial: A Luta pela Esperança. Duração: 144 min.

rodapé: vou tentar postar nos próximos dias minha primeira rodada de previsões para o Oscar 2005.

nas picapes: Downtown Train, Tom Waits.

23 de set. de 2005

Histórias verdadeiras



Há poucas coisas tão puras quanto assistir a um filme com os olhos de um espectador comum. Existem muitos filmes que exploram justamente essa relação inocente do homem com o cinema de forma maniqueísta, manerista, simplória, que vencem - ou tentam vencer - pelo encanto fácil, pelas armadilhas dos clichês. Há poucos filmes que realmente remetem a um estado mais primário de relação com o espectador sem que isso ganhe qualquer contorno depreciativo. São esses filmes que desconstroem nosso discurso mais, digamos, científico, analítico, questionador. São eles que nos vencem pela força das personagens, pela simplicidade do texto, pela pureza.

Essa não é uma verdade universal. Um filme que se comunica dessa forma com alguém não vai necessariamente reprisar esta comunicação com outra pessoa. O fato é que nunca se sabe o quanto e como um filme vai se manifestar para uma pessoa. Mas quando isso acontece há algo de realmente especial. É quando a história nos envolve de tal forma que por segundos que sejam nós esquecemos a moldura da tela e olhamos diretamente para dentro dela. É se identificar com os atores, se enxergar em situações semelhantes, se entregar ao choro, às vezes descontrolado, pelo simples motivo do contato. O que dizer quando um filme assim não é uma obra de ficção? Não se está falando de "histórias reais" refeitas para o cinema e, sim, de um documentário. Numa época em que os documentários são cada vez mais brutos sob a égide do realismo, isso é um feito enorme.

Doutores da Alegria é um filme surpreendente. Se de um lado tem enormes méritos em buscar certos artifícios narrativos para renovar sua linguagem (buscar seus interlocutores em situações do cotidiano claramente "armadas"; inventar cenários e molduras para seus depoimentos), do outro não consegue tanto efeito assim nessa busca. O maior crédito do filme é justamente quando esquece essa preocupação, que é válida, e aposta nas suas pequenas histórias. Histórias como a maravilhosa história do Gnomo Davi, minha cena favorita deste ano, e como a tocante história do pai alegre de um filho doente, capaz de fazer qualquer muralha vir abaixo. Doutores da Alegria é um grande filme não porque é um documentário, mas porque é de verdade.

Doutores da Alegria
Doutores da Alegria, Brasil, 2005.
Direção e Roteiro: Mara Mourão.
Fotografia: Helcio Alemão Nagamine. Montagem: Rodrigo Menecucci. Direção de Arte: Maurício Dias. Música: Arrigo Barnabé. Produção: Chris Bender e Mariane Maddalena. Site Oficial: Doutores da Alegria. Duração: 96 min.

nas picapes: Tui, a Funky Cat , dos DJs Môpa e André Urso, inspirada na gatinha que coabita minha casa (tem no cd do Amp, da MTV).

22 de set. de 2005

O passageiro do lado



Muitas vezes a pior parte de uma viagem de avião é justamente quem senta ao seu lado. Depois de Amaldiçoados, que chegou aos cinemas dois meses atrás, Wes Craven limpa seu nome com um filme bom. Vôo Noturno tem o mérito de retirar Craven do universo do cinema de terror e mostrar o fôlego do diretor num filme de suspense, que se apega à tensão, construída com extrema eficiência. Tensão, inclusive e, talvez sobretudo, verbal. Muito da invenção está no diálogo entregue aos protagonistas. Desde a apresentação das personagens, os passageiros do vôo, o roteiro revela que ali tem coisa boa.

O casting foi acertadíssimo: Cillian Murphy, com uma propensão natural à psicopatia (uma indicação para o Alfred pelo Espantalho de Batman Begins seria exagero?), é o contraponto ideal para a belezinha Rachel McAdams, que tem se mostrado não apenas boa atriz, mas esperta na escolha de seus filmes. Sem excessos, dá conta do recado. A dupla - e o roteiro enxuto (o filme é deliciosamente rapidinho mesmo) - mantêm o ritmo incessante, que pega o espectador pelo pé. O único senão é o último ato, que parece sobrar. Se o filme não saísse do aeroporto seria perfeito.

Vôo Noturno
Red Eye, Estados Unidos, 2005.
Direção:: Wes Craven.
Roteiro: Carl Ellsworth, a partir de estória de Dan Foos e Carl Ellsworth.
Elenco: Rachel McAdams, Cillian Murphy, Brian Cox, Jayma Mays, Robert Pine, Jack Scalia, Brittany Oaks, Tina Anderson, Carl Gilliard, Suzie Plakson, Max Kasch, Laura Johnson, Angela Paton.
Fotografia: Robert D. Yeoman. Montagem: Stuart Levy e Patrick Lussier. Direção de Arte: Bruce Alan Miller. Música: Marco Beltrami e Tom Mesmer. Figurino: Mary Claire Hannan. Produção: Chris Bender e Mariane Maddalena. Site Oficial: Vôo Noturno. Duração: 85 min.

rodapé: três estréias nesta sexta-feira nos cinemas de Salvador: a reprise da série de TV Os Gatões- Uma Nova Balada, com o insuportável Johnny Knoxville, a comédia O Virgem de 40 anos, que parece ser bobagem pura, e o adorável documentário brasileiro Doutores da Alegria, filmaço de Mara Mourão.

nas picapes: The Beaten Generation, The The.



Brasil no Oscar.
Brasil no Oscar?

21 de set. de 2005

O Brasil anuncia amanhã, quinta-feira, dia 22, o filme que representará oficialmente o país na disputa por uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Neste ano, ao contrário do que normalmente acontece, a seleção foi feita exclusivamente por críticos de cinema. Na lista, Andréa França, Jaime Biaggio, Maria do Rosário Caetano, Paulo Santos Lima, Rubens Ewald Filho, Sérgio Moriconi e João Carlos Sampaio, crítico do jornal A Tarde, de Salvador.

A lista de filmes que pleiteiam a vaga são:

Meu Tio Matou um Cara, de Jorge Furtado
Jogo Subterrâneo, de Roberto Gervitz
Quanto Vale ou é Por Quilo?, de Sérgio Bianchi
2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira
Casa de Areia, de Andrucha Waddington
A Dona da História, de Daniel Filho
Gaijin - Ama-me Como Sou, de Tizuka Yamasaki
Contra Todos, de Roberto Moreira
Quase Dois Irmãos, de Lúcia Murat
Tainá 2 - A Aventura Continua, de Mauro Lima
Garrincha - A Estrela Solitária, de Milton Alencar Jr.
Concerto Campestre, de Henrique de Freitas Lima

Da lista, vi os filmes de Bianchi (péssimo), Silveira (bom), Waddington (acima da média), Moreira (tolo) e Murat (que fica no meio do caminho). Pela lógica de sempre, escolhe-se o que teria mais "perfil" para o Oscar, ou seja, o que tem qualidade e obedece a um certo padrão hollywoodiano. Nada de inovação de linguagem ou de visibilidade menor. Isso se os críticos não resolverem ousar. Mas qual seria a ousadia possível? Alguém duvida de qual vai ser o representante brasileiro deste ano?

P.S.: integrantes da liga que ainda não deram sua opinião: tem votação para decidir oi futuro das trilhas sonoras no Alfred no blogue da liga.

20 de set. de 2005

O site do Festival do Rio, vergonhosamente, ainda não tem a programação do evento, que saiu no sábado no jornal O Globo.

A hora de crescer



Inusitado o lançamento nos cinemas brasileiros deste filme de Gabriele Muccino, rodado há seis anos. Bem antes, por sinal, de O Último Beijo, o longa que deixou o diretor mais conhecido no circuito mais alternativo do país. De certa forma, Para Sempre na Minha Vida antecipa temas e formatos que viriam a ser retrabalhados por Muccino: muitos personagens tentando lidar mais com questões internas do que com o mundo em si, uma certa inquietação frente à imobilidade e uma narrativa democraticamente dividida entre estas personagens, embora sempre estejam claros os protagonistas.

A diferença é a de universos: antes de chafurdar a vida de homens chegando aos 40, Muccino se dedicou a dar uma espiada nos dramas dos adolescentes. Com a ajuda do irmãos mais novo (que também protagonizou o filme), o roteiro co-escrito pelos dois conseguiu dar uma densidade aos problemas de quem ainda não chegou à idade adulta que raramente é vista em filmes com esse foco. A presença de Silvio nos créditos certamente foi fundamental para que o assunto fosse levado a sério. Há belas cenas, todas inseridas num contexto político transformado em revolta escolar. Há Anna Galiena, ainda linda como a mãe que ainda não percebeu que os filhos cresceram. Mas Muccino também filma com certa inocência, com a mesma inocência de quem ainda não olhou para o lado certo.

Para Sempre na Minha Vida
Come Te Nessuno Mai, Itália, 1999.
Direção:: Gabriele Muccino.
Roteiro: Gabriele Muccino, Silvio Muccino e Adele Tulli.
Elenco: Silvio Muccino, Giuseppe Sanfelice, Giulia Steigerwalt, Giulia Carmignani, Luca De Filippo, Anna Galiena, Enrico Silvestrin, Giulia Ciccone, Simone Pagani, Caterina Silva, Sara Pelagalli, Saverio Micheli, Cristiano Iuliano, Nicola Campiotti, Alessandro Palombo, Adele Tulli, Valeria D'Obici, Mauro Marino.
Fotografia: Arnaldo Catinari. Montagem: Claudio Di Mauro. Direção de Arte: Eugenia F. Di Napoli. Música: Paolo Buonvino. Figurino: Roberta Bocca, Donato Citro e Gianna Iacobelli. Produção: Domenico Procacci. Site Oficial: Para Sempre na Minha Vida. Duração: 88 min.

nas picapes: Free, Cat Power.

Notas



A internet lá de casa bateu asas e voou por algum misterioso motivo. Até que ela seja reabilitada, estou meio atrasado nas atualizações aqui. Neste meio tempo, vi três filmes no cinema: Para Sempre na Minha Vida, de Gabriele Muccino, filme sobre adolescentes bem bonitinho; Vôo Noturno, de Wes Craven, que tem um ritmo frenático adorável; e Doutores da Alegria, de Mara Mourão, documentário que ora é formal, ora é inventivo, mas que é um filme lindo, lindo. Escrevo sobre eles em breve.



Em casa, dois filmes revistos em DVD: Excalibur, de John Boorman, diminui imensamente. A lenda do Rei Arthur, história que me fascina desde a infância mais tenra, parece comprimida e contada às pressas para que o filme não ultrapasse muito as duas horas de duração. O resultado é um filme que tem muito a dizer, mas diz muito pouco. A maioria das personagens é tratada com certo descaso e as passagens de tempo são abruptas demais. O que mais incomoda, no entanto, é uma tendência transformar a relação entre Merlin e Arthur numa relação cômica, principalmente no começo do longa. Ah... e tem aqueles reflexos verdes em quase tudo...

Agora, rever Constantine foi muito bom porque reafirmou o quanto eu realmente gosto do filme. O longa desconstrói muito da história da personagem das HQs, mas consegue fazer com que suas transformações continuem reproduzindo com grande êxito o "espírito" de John Constantine. Todos os coadjuvantes têm bons momentos (Peter Stormare, como Lúcifer, é mais à vontade, embora sua personagem também seja diferente dos quadrinhos) e eu acho que o Keanu Reeves surpreendentemente está bem eficiente no papel principal. Tem meu voto garantido para o Alfred de melhor roteiro adaptado.

E, para os integrantes da liga, tem votação no blogue da Liga dos Blogues Cinematográficos.

19 de set. de 2005

Resultado da enquete:
Quais os cinco atores que você acha que vão disputar o Alfred?


Acho meio irreais os votos do Leonardo Medeiros e do Alex Etel, este principalmente. O que me surpreendeu foi o número baixo de votos pro Jamie Foxx (não é uma interpretação que goste tanto assim, mas é boa).

1º Javier Bardem, Mar Adentro 12,81% (26 votos)

2º Leonardo Di Caprio, O Aviador 8,87% (18 votos)

3º Bruno Ganz, A Queda!
Mickey Rourke, Sin City
Johnny Depp, A Fantástica Fábrica de Chocolate
Kevin Bacon, O Lenhador
Leonardo Medeiros, Cabra-cega 6,40% (13 votos)

8º Alexander Nathan Etel, Caiu do Céu
Ângelo Antônio, 2 Filhos de Francisco 5,42% (11 votos)

10º Clint Eastwood, Menina de Ouro 4,93% (10 votos)

11º Mark Ruffalo, Tentação
Liam Neeson, Kinsey 3,94% (8 votos)

13º Yuya Yagira, Ninguém Pode Saber 3,45% (7 votos)

14º Jamie Foxx, Ray
Clive Owen, Closer 2,96% (6 votos)

16º Paul Giamatti, Sideways 2,46% (5 votos)

17º Bill Murray, A Vida Marinha de Steve Zissou 1,97% (4 votos)

18º Christian Bale, O Operário
Don Cheadle, Hotel Ruanda
Stephen Chow, Kung-fusão 1,48% (3 votos)

21º Caco Ciocler, Quase Dois Irmãos
Christian Bale, Batman Begins
Vincent Gallo, The Brown Bunny
Campbel Scott, A Vida Secreta dos Dentistas
Vincent Gallo, Desejo e Obsessão
Topher Grace, Em Boa Companhia
Romain Duris, Exílios
Russel Crowe, A Luta pela Esperança
Choi Min-sik, Oldboy 0,49% (1 voto)

30º Jude Law, Closer
Paulo César Pereio, Harmada
Sean Penn, A Intérprete (nenhum voto)

Total: 203 votos.

15 de set. de 2005

O fim da moral



Um filme ruim, sem um pingo de inventividade, que faz apologia à violência, à força bruta. Lamentável esta tentativa de se transformar vingança em justiça e ainda se embalar isto tudo em forma de thriller para passar longe da discussão ética. Como o interesse é exatamente fazer espetáculo da questão, o filme passa longe de outros que tomam caminhos ou mais sérios, ou mais cinematográficos. Os atores estão péssimos. As cenas de fantasmas são vergonhosas. Nada mais a declarar.

Quatro Irmãos
Four Brothers, Estados Unidos, 2005.
Direção:: John Singleton.
Roteiro: David Elliot e Paul Lovett.
Elenco: Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, André Benjamin, Garrett Hedlund, Terrence Howard, Josh Charles, Sofia Vergara, Fionnula Flanagan, Chiwetel Ejiofor, Taraji P. Henson, Barry Shabaka Henley, Jernard Burks, Kenneth Welsh, Tony Nappo, Shawn Singleton, Reiya West Downs, Riele West Downs.
Fotografia: Peter Menzies Jr. Montagem: Bruce Cannon e Billy Fox. Direção de Arte: Keith Brian Burns. Música: David Arnold. Figurino: Ruth E. Carter. Produção: Lorenzo di Bonaventura. Site Oficial: Quatro Irmãos. Duração: 109 min.

nas picapes: I'm Lonely But I Ain't That Lonely Yet, The White Stripes.

Investigação existencial



A música triste de Jon Brion tem o tom exato do melaconcólico universo interior pintado por David O. Russel em seu novo filme. Huckabees - A Vida é uma Comédia, que não chegou a ser lançado nos cinemas brasileiros, é um longa que se utiliza da abstração da comédia, com elementos malucos + mágicos, para se transformar em discurso sobre a solidão. A idéia de criar detetives existenciais para investigar suspeitas coincidências nas vidas das pessoas abre um leque muito interessante sobre impressões do mundo, relevâncias, missões.

O que não funciona como se pretende no filme não funciona por culpa do diretor. O roteiro, com seus privilégios à brincadeira, deixa a bobagem com papel muito mais destacado do que qualquer coisa. O elenco, muito bem escolhido e com belos momentos individuais (Lily Tomlin tem um timing invejável), embarca nessa concepção transformando tudo num enorme brinquedo. Brinquedo que diminui e dissipa os efeitos das questões levantadas, que dá menos importância ao filme. O que é feito da inusitada presença de Isabelle Huppert é quase grotesco. Num cenário destes, a maior surpresa é a delicada interpretação de Mark Wahlberg, que transforma um bombeiro em crise numa grande personagem, complexa e melaconcólica. É realmente o único a acreditar na proposta do filme, seja ela qual for.

Huckabees - A Vida é uma Comédia
I Love Huckabees, Estados Unidos, 2004.
Direção:: David O. Russell.
Roteiro: David O. Russell e Jeff Baena.
Elenco: Jason Schwartzman, Mark Wahlberg, Isabelle Huppert, Dustin Hoffman, Lily Tomlin, Jude Law, Naomi Watts, Tippi Hedren, Angela Grillo, Ger Duany, Darlene Hunt, Kevin Dunn, Benny Hernandez, Richard Appel, Benjamin Nurick, Jake Muxworthy, Pablo Davanzo, Jean Smart, Richard Jenkins, Talia Shire, Bob Gunton, Shania Twain.
Fotografia: Peter Deming. Montagem: Robert K. Lambert. Direção de Arte: K.K. Barrett. Música: Jon Brion. Figurino: Mark Bridges. Produção: Gregory Goodman, Scott Rudin e David O. Russell. Site Oficial: Huckabees - a Vida é uma Comédia. Duração: 105 min.

nas picapes: Black, Pearl Jam.

Estréias desta sexta-feira em Salvador

Sete títulos: acompanhando os lançamentos nacionais, estão o fraco (1) Quatro Irmãos, de John Singleton, e (2) Quatro Amigas e um Jeans Viajante, com aquela Alexis Bledel, a mesma de Sin City. O italiano Gabriele Muccino, do bom O Último Beijo, aparece com (3) Para Sempre na Minha Vida e o filho do Alfonso, Sergio Arau chega com (4) Um Dia sem Mexicanos. Completam a lista o documentário dirigido por brasileiros, (5) Extremo Sul, o polêmico e explícito novo filme de Michael Winterbottom, (6) 9 Canções, e um dos melhores filmes de Eric Rohmer, (7) Amor à Tarde.

14 de set. de 2005

Pela estrada afora



Cada quadro de Exílios é um presente. A fotografia é calculada em cada pequeno detalhe, mas nunca esboça artificialismo ou afetação. O road movie existencialista de Tony Gatliff fala sobre uma busca de não se sabe muito bem o quê: origens, identidade, papel do mundo. O que importa é a inquietação que transforma dois estrangeiros que moram em Paris numa dupla errante em êxodo voluntário. O tom começa pretensioso, mas muda pouco depois quando se afirma o desenho das personagens. O casal de protagonistas guarda características ingênuas, pueris, ancestrais. Os dois atores nunca estão espetaculares, mas sempre se entregam com felicidade aos papéis, que, em mãos erradas, cairiam facilmente no lugar comum.

O maior talento de Gatliff, premiado em Cannes pela direção deste filme, está em como ele torna sensorial a viagem de suas personagens: do sexo, que surge como elemento essencial, vital, ao jogo de sabores e sons que marcam o trajeto. A trilha sonora composta pelo próprio cineasta, por sinal, é importantíssima para empurrar a dupla pelo caminho. Os dois atravessam França, Espanha, cruzam o estreito de Gibraltar e passeiam em parte do norte da África para chegar à Argélia. No meio do caminho, a busca se torna cada vez mais nebulosa, os objetivos cada vez menos importantes. O movimento é o que justifica a ação de Zano e Naima.

Há um imenso deleite visual. Esplendor mesmo, correndo o risco de beirar o exagero pictórico. Uma das cenas mais exemplares é a da partida do caminhão das ruínas da cerâmica abandonada; é o que se entende por filme em seu estado mais puro, um momento em que se justifica a existência do cinema. A imagem que fala. A seqüência do jogo sexual no pomar é a cena mais sensual do ano, onde os dois atores se entregam ao animalesco com gigantesca dedicação. Exílios peca apenas na penúltima cena, imensa, que deveria funcionar como catalisadora, como clímax, como entrega final das personagens a sua cultura, história, origem, mas que exagera na ânsia de significar e fechar arestas. No entanto, a essa altura, Tony Gatliff já poderia mesmo se arriscar porque seu filme já havia se revelado encantador.

Exílios
Exils, França, 2004.
Direção, Roteiro e Produção: Tony Gatliff.
Elenco: Romain Duris, Lubna Azabal, Leila Makhlouf, Habib Cheik, Zouhir Gacem.
Fotografia: Céline Bozon. Montagem: Monique Dartonne. Direção de Arte: Brigitte Brassart. Música: Tony Gatlif e Dalphine Mantoulet. Site Oficial: Exílios. Duração: 103 min.

rodapé:

Djomeh , de Hassan Yektapanah.
Vi Djomeh há um bom tempo, mas não me inspirei para escrever sobre ele talvez porque ela pareça muito com muitos dos filmes iranianos que chegaram ao Brasil nos últimos tempos. Sem a mesma concepção de um Abbas Kiarostami, o diretor se dedica a contar a historinha do moleque afegão com compulsão casamentícia de forma "bonitinha" e pouco inspirada. Não fede. Não cheira.

Na calada da noite, assisti com uns amigos aqui em casa Sharkman, uma daquelas podreiras que tentam resgatar os filmes de monstros dos anos 50. Não chega nem perto. E nem vale a pena comentar. Bom mesmo para tirar onda.

E vote na nova enquete no pop-up: quais os cinco atores que você acha que vão disputar o Alfred 2005?

nas picapes: Evil, Interpol.

12 de set. de 2005

Gosto dos Outros: Guilherme Martins



Os dez vem em ordem alfabética:

O Atalante (L'Atalante, 1934), de Jean Vigo.

Esse filme reinventa a emoção cinematográfica, apaixonante toda vida, é bonito, engraçado e filmado como poucos. Tem ainda um dos maiores personagens do cinema, o tio Jules, sensacional, e um porção de gatos em cena.

Copacabana Mon Amour (idem, 1970), de Rogério Sganzerla.

Cinemascope das favelas, esse filme explode a tela do cinema. Scope com câmera na mão, ao som berrante da música de Gil, com Guará, Helena Ignez e cia em momentos iluminados. Esse filme é a imagem em seu estado mais livre e selvagem.

O Despertar dos Mortos (Zombie/Dawn of the Dead, 1978), de George Romero.

Esse é o maior filme do mundo. Talvez não seja o melhor, mas é o maior. Pra além de tantas questões políticas, esse filme me diz uma coisa o tempo todo: cinema, cinema, cinema. O som do Goblin dá o ritmo exato da progressão romeriana. É de enlouquecer.

Eles Vivem! (They Live!, 1988), de John Carpenter.

"I have come here to chew bubblegum and kick ass. And I'm all out of bubblegum."
"Life's a bitch and she's back in heat!"
"White line's in the middle of the road, that's the worst place to drive."

No Silêncio da Noite (In A Lonely Place, 1950), de Nicholas Ray.

O fim mais amargo da história do cinema, as luzes e câmera de Ray não nos deixam enganar. Ray mais do que dirigia seus atores, ele os seduzia; o resultado é uma atuação implacável de Bogart, talvez a sua melhor. Ray é um cara que te faz querer acompanhar o filme aonde ele for com suas emoções. É difícil descrever filmes assim.

A Primeira Noite de Tranqüilidade (La Prima Notte di Quiete, 1972), de Valerio Zurlini.

Esse filme tem um tempo só dele, uma duração própria, os cortes exatos. Há os planos zurlinianos, Alain Delon caminhando sobre o parapeito, o carro do Delon, uma mulher inacreditável e o mago Giancarlo Giannini. Alias, esse filme tem duas das maiores atuações do cinema.

Quando Explode a Vingança (A Fistful of Dynamite/Giù La Testa, 1971), de Sergio Leone.

Esse é um filme pra se ver no cinema com tela grande e larga. Só assim pra começar a se aproximar dos planos de Leone, a forma como filma James Coburn e Rod Steiger e aqueles e aquilo que estão a sua volta. Há ainda alguns dos usos mais inacreditáveis do zoom, uma porção de cenas pra vibrar e chorar, tudo ao som da trilha sensacional de Morricone (chom chom...).

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1959), de Howard Hawks.

Qualquer filme que comece do jeito que começa Rio Bravo teria que figurar numa lista de melhores do mundo; o problema é que ele só vai melhorando. Mais do que tudo funcionar, da disposição e postura dos figurantes em cena à câmera de Hawks, tem algo em Rio Bravo, não é apenas a encenação, o encadeamento dos planos, o tom, o Walter Brennan (gênio maior). É uma parada de observar o Hawks resolvendo tudo num estalo de dedos, mas ao mesmo tempo ir vendo todo um trabalho que vai se desenvolvendo. É uma experiência como poucas ver e rever esse filme.

Saló, ou os 120 dias de Sodoma (Saló o le 120 Giornate di Sodoma, 1975) , de Pier Paolo Pasolini.

Esse filme você vive, ou melhor, sobrevive. Um processo intenso mesmo. Em certo momento uma personagem exbraveja "Deus porque você nos abandonou?" e bem, nada resume o filme melhor que isto.

O Tiro Certo (The Shooting, 1967), de Monte Hellman.

Um faroeste do espaço sideral, alguns dos planos mais emblemáticos e importantes do cinema estão aqui. Um dos maiores usos da ausência da civilização num filme. A ser desvendado. Sem falar em grande performance de Warren Oates, o maior ator do cinema.



Mais: Alvo Duplo III, Tsui Hark; Assalto à 13a DP, John Carpenter; Ato Final, Jerzy Skolimowski; Uma Aventura na Martinica, Howard Hawks; Banho de Sangue, Mario Bava; Cuidado com a Puta Sagrada, Rainer Werner Fassbinder; O Desprezo, Jean-Luc Godard; Duas Garotas Românticas, Jacques Démy; Faces, John Cassavetes; Prelúdio para Matar, Dario Argento; They All Laughed, Peter Bogdanovich; Um Tiro na Noite, Brian De Palma; Zombie, Lucio Fulci.

microentrevista

Houve um marco inicial na sua história com o cinema?
Não sei se houve um marco, houve filmes específicos e obras descobertas que alimentaram de forma vital essa paixão. Dá pra dizer que o duo Carpenter/Hawks foram os que mais tocaram no sentido de me fazer correr atrás do mundo do cinema, mas quando se começa a cinefilia muito jovem como no meu caso, e morando numa cidade afastada dos grandes centros (no meu caso era Cuiabá), ou seja, exageradamente sozinho, a gente começa tateando de tudo quanto é tipo de cinema, e muitas vezes mistura o que já é complicado (adolescência), mesmo que com muita coisa foda, com algo ainda mais complicado (cinema). Mas tem vários filmes que por uma ou outra razão naquele instante me deixaram pulsando, vai de Massacre da Serra Elétrica à irmãos Marx.

Há um tipo de filme que mais te chame atenção ou uma época do cinema em que estejam muitos de seus favoritos?
O meu gênero favorito sempre foi (e, acredito, sempre será) terror, não tem jeito. Já tem algum tempo que eu consegui quebrar a barreira de ser exageradamente fanático por terror à ponto de conviver mais pacificamente com outros gêneros, houve mesmo um momento em que eu realmente vi tudo que as locadoras que eu freqüentava em Cuiabá possuíam do gênero, dos mais variados tipos de filmes de terror. Mas mesmo hoje não tem jeito, eu gosto de ver filmes de terror, dos mais toscos aos mais bem produzidos, dos bola preta aos quatro estrelas, europeus, asiáticos, americanos. É um processo de aproximação diferente, de exigir coisas diferentes, o que talvez explique o fato de existir somente um filme realmente do gênero no 10+ aí de cima, e outro que flerta.

O que você acha dos blogues sobre cinema?
Eu nunca levei muito a sério o processo de escrever em blogues, eu realmente tendo a usar ele como um espaço mais descontraído de um cinéfilo, comentários rápidos, preferindo guardar o processo de "ir ao filme" pra textos diretos. Mas acho que isso depende de cada um, depende se a pessoa tem um espaço pra fazer isso, da relação dela com o blogue - eu tenho o meu há um tempão, no começo escrevia bem esporadicamente sobre cinema, mas quando o fazia escrevia mais até do que faço hoje, que no máximo esboço pequenas anotações e comentários, ele começou a virar um blogue de cinema mesmo quando a necessidade de escrever sobre cinema foi aumentando, e mesmo nesse momento eu cheguei a criar um site, o Sozinho no Escuro, que era voltado pra filmes de terror, pra poder praticar lá. Gosto de entrar em tudo quanto é blogue de cinema todo dia e ler o que se foi dito, mas eu mesmo não consigo exercer esse trabalho "crítico" por lá, prefiro fazer dele um lado B dos meus textos. Mas acho que isso depende de cada um.

Fazer um filme, ou participar da realização de um deles, foi uma extensão natural de seu interesse por cinema?
Com certeza, ainda que ver um filme e trabalhar na realização de um sejam processos de certa forma muito diferentes, mas são atos que se completam. Sem falar que é uma experiência de convivência sensacional. O que me chama mais a atenção é ver o quão complicado é se ter um "olhar de critico" quando se realiza um filme, das necessidades de em um dado momento se afastar desse lado, mas em outros notar o quanto ele pode ser vital pra certas escolhas.

Acabou o filme, hora de...
Rever! Tem poucas coisas mais importantes do que rever em cinema.



Guilherme Martins, 20, é redator da Contracampo, também colabora no Cine Imperfeito e escreve o blogue Free as a Weird, no ar há quatro anos. Sócio da Hatari! Produções, prestes a ser oficializada no papel, mas já em atividade, com diversos projetos na área de cinema.

8 de set. de 2005

Enquete no ar:
Quais as cinco atrizes que você acha que vão disputar o Alfred?

Vote na sua e faça a campanha dela.
Em pop-up, na página inicial deste blogue.

7 de set. de 2005

Resultado da enquete:
Quais os cinco filmes que você acha que vão concorrer ao Alfred 2005?



1 O Aviador 14,22% (31 votos)

2 Menina de Ouro 12,84% (28 votos)

3 Sin City 7,34% (16 votos)

4 Um Filme Falado 6,88% (15 votos)

5 Closer e A Fantástica Fábrica de Chocolate, cada um com 5,96% (13 votos)

7 Clean 5,50% (12 votos)

8 Mar Adentro e Oldboy, cada um com 4,13% (9 votos)

10 A Menina Santa e Terra dos Mortos, ambos com 3,21% (7 votos)

12 Sideways 2,75% (6 votos)

13 Bom Dia, Noite, Casa Vazia e Guerra dos Mundos, os dois com 2,29% (5 votos)

16 Batman Begins e A Vida Marinha com Steve Zissou, ambos com 1,83% (4 votos)

18 The Brown Bunny, 2 Filhos de Francisco, O Jardineiro Fiel, Ninguém Pode Saber e A Queda!, todos com, cada um, 1,38% (3 votos)

23 O Castelo Animado, O Clã das Adagas Voadoras, Exílios,
Herói, Manderlay e A Vingança dos Sith, cada filme com 0,92% (2 votos)

29 Kinsey e Nossa Música, ambos com 0,46% (1 voto)

Total: 218 votos.

Guilherme Martins.
Segunda-feira, 12 de setembro.
No Gosto dos Outros.

1 de set. de 2005

Estréias desta sexta-feira nos cinemas de Salvador

Um recorde: nove estréias. Entram em cartaz os documentários A Corporação, na linha Michael Moore de contar a verdade, e Coisa Mais Linda, este brasileiro sobre a bossa nova. Por falar em Brasil, chegam às salas de cidade Coisa de Mulher, com Adriane Galisteu, Gaijin - Ama-me como Sou, que faturou Gramado, e o ótimo Cabra-Cega, de Toni Venturi, que eu vi há alguns meses em São Paulo. Ainda na lista o elogiado francês Exílios, em que eu aposto bastante, a incursão dos irmãos Farrelly pelo mundo de Nick Hornby em Amor em Jogo, e Três Vidas e um Destino, que tem a maior cara de filme mais fake do ano. Completam a relação as pipocas norte-americanas Ameaça Invisível - Stealth, vontade zero de ver, e Deu Zebra, vontade menos um de ver.

Fale agora ou cale-se para sempre



A primeira impressão foi boa: comédia engraçada, piadas inteligentes, bem sacadas, atores que, se não são grandes, são bastante simpáticos. Um filme provavelmente muito fácil de se gostar. E gostaram. A obesa bilheteria de Penetras Bons de Bico deve rapidamente ultrapassar a do filme do homem-morcego e virar a terceira maior do ano, perdendo apenas para uma dupla infalível: Steven Spielberg e George Lucas. Bem, mas a primeira impressão nem sempre é a que fica e logo depois dos primeiros trinta minutos (ou pouco antes deles?), o filme de David Dobkin revela sua falta de criatividade. A repetição de gags anciãs e tom abobalhado de filme de macho, feito por macho e para macho, tudo naquele clima evasivo de "eu sou um grande brincalhão", atrapalham bastante o bom ritmo que o longa vinha emplacando.

A patetada parece justificar o surgimento de personagens burocráticos e a reimaginação de situações dignas de Porky's (1981), numa versão mais light, mais família. Sim, é um filme para ver em família. Famílias daquelas em que "eu adoro comédia, vou ao cinema para me divertir" é a única frase possível de se ouvir. O clã de novos humoristas com velhas idéias, comandado por Ben Stiller e o próprio Owen Wilson, me parece muitíssimo sem graça. E este filme, mais um produto do grupo, não faz muito para mudar essa percepção. E ainda tenta camuflar a nesga de criatividade com um tom melancólico, onde a trilha etérea do habitué de Alexander Payne, Rolfe Kent, é o BG do romance que surge e faz nosso protagonista rever seus conceitos.

Há algumas boas risadas, mas elas são bem poucas. Vince Vaughn tem uma personagem bem mais interessante do que a de Wilson, mas peca pelo excesso de afetação, que deixa seu coadjuvante-contraponto-cômico chato e pouco crível. O colírio Rachel MacAdams é um raio de sol no filme: está linda e apaixonante, mas nem toda sua fofura desconta os papéis entregues a Jane Seymour e Christopher Walken, que consegue fazer um filme que o desmoraliza a cada dois anos. Mas não há nada que seja mais constrangedor do que a interpretação (é, dizem que foi uma) de Will Ferrell, que não estava mal em Melinda e Melinda (Woody Allen, 2004). Seu texto e toda sua "criação gestual" são tão ridículos quanto a tentativa tosca de qualquer ator de A Praça é Nossa de fazer rir.

Penetras Bons de Bico
Wedding Crashers, Estados Unidos, 2005.
Direção: David Dobkin.
Roteiro: Steve Faber e Bob Fisher.
Elenco: Owen Wilson, Vince Vaughn, Rachel McAdams, Isla Fisher, Stephanie Nevin, Christopher Walken, Jane Seymour, Ellen Albertini Dow, Jennifer Alden, Summer Altice, Betsy Ames,Camille Anderson, Diora Baird, Ivana Bozilovic, Carson Elrod, Will Ferrell.
Fotografia: Julio Macat. Montagem: Mark Livolsi. Direção de Arte: Barry Robinson. Música: Rolfe Kent. Figurinos: Johnetta Boone e Denise Wingate. Produção: Peter Abrams, Robert L. Levy e Andrew Panay. Site Oficial: Penetras Bons de Bico. Duração: 119 min.

rodapé: quais os cinco filmes que você acha que vão concorrer ao Alfred 2005? Enquete no pop-up que abre junto com este blogue.

nas picapes: Red Rain, The White Stripes.


 
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